Paulista, com 38 anos, sendo mais de 10 deles vividos na Irlanda. Mário André Bortoletto é digital marketer e muito conhecido pelos estudantes brasileiros da Ilha Esmeralda. Ele mora atualmente em Smitfield, em Dubin. Marião, como é conhecido, foi para a Irlanda logo após perder uma vaga de emprego, no Brasil, por não saber inglês. E a viagem que era para ser de apenas seis meses acabou transformando sua vida. Ele já foi gari, lavador de prato, e hoje ajuda brasileiros que querem imigrar. Todas as semanas ele posta novidades em seus perfis no Youtube, Instagram e Facebook . Vale muito a pena segui-lo para ficar por dentro de tudo que está rolando em terras irlandesas. O JORNAL falou com Marião e traz abaixo uma entrevista especial com ele. Marião falou sobre seu início na Irlanda, trabalho, estudo, qualidade de vida, dá várias dicas e também adiantou sobre o seu futuro no país. Confere aí:
O JORNAL – Como foi sua ida para a Irlanda? De onde surgiu a ideia?
Marião – Eu tinha perdido uma vaga de emprego dos sonhos porque não sabia Inglês. Como eu tinha um amigo morando aqui ele fez a ponte e eu vim com a ilusão de ficar só 6 meses.
O JORNAL – Você está na Irlanda há quanto tempo? O que fez nesse período e o que faz agora?
Marião – Estou aqui há quase 11 anos. Já trabalhei como gari, kitchen porter, cleaner de restaurante, floor staff de pub, bar back, plaqueiro, consultor de intercâmbio, já tive empresa de acomodação e agência de intercâmbio. Hoje, literalmente, faço a correria, trabalho no departamento de comunicação da ICOT College, sou recepcionista no Good trouble Ink que é um dos maiores estúdios de tatuagem de Dublin, tenho a consultoria Marião na Europa e também o canal do Youtube que dá um trabalhinho.
O JORNAL – Tem visto de trabalho ou cidadania europeia?
Marião – Tenho cidadania europeia.
O JORNAL – E sobre adaptação na Irlanda. O que foi mais difícil?
Marião – O processo de mudança mais difícil porém rápido foi compreender que era só eu que tomaria minhas decisões. Todas as lágrimas e todos os sorrisos eram frutos das minhas ações. Como sempre vivi rodeado de amigos e familia eu sempre tinha com quem dividir as decisões, aqui não, aqui era tudo no meu nome. Acho que essa foi a grande ruptura da minha vida aqui na Irlanda. Depois disso a vida voou.
O JORNAL – Quais dicas dá para quem quer imigrar?
Marião – Se quer mesmo imigrar saiba que você já tem tudo o que você precisa, que é vontade. Faça um planejamento, pesquise muito e sem preguiça e mete a cara. A vida aqui fora não é fácil, mas é boa.
O JORNAL – Pensa em voltar para o Brasil?
Marião – Não penso, mas não descarto a chance. Só não vai acontecer agora, não há nada que me faça querer voltar pro Brasil no momento.
O JORNAL – Se arrepende de algo?
Marião – De não ter levado as aulas de inglês a sério no começo do meu intercâmbio. Isso fez eu ter muito mais dificuldades do que teria se tivesse estudado com seriedade.
O JORNAL – Conte um pouco sobre o seu dia a dia por ai?
Marião – Três dias por semana eu trabalho na ICOT, é o fervilhamento criativo concentrado, adoro esse trabalho. Um dia eu faço as consultorias e respondo a galera outros dois eu trabalho no Good Trouble Ink, que é um estímulo totalmente diferente, trabalhar no meio da arte é muito bom, no domingo eu faço vídeo e no oitavo dia eu descanso (risos).
O JORNAL – Compensa trabalhar por ai?
Marião – Demais, a Irlanda tem o segundo maior salário da Europa. Hoje o dinheiro está aqui, mas viver aqui tem um preço.
O JORNAL – É cara a vida?
Marião – Dublin é uma das cidades mais caras da Europa pra se morar, então aqui se ganha muito bem mas também se gasta muito bem. A crise imobiliária está bem forte aqui, então o aluguel é bem caro. De qualquer forma com o que se ganha se vive muito bem, como jamais conseguiria viver no Brasil.
O JORNAL – Dá para viver bem e guardar dinheiro?
Marião – São escolhas, né? Pra guardar dinheiro o segredo é gastar menos, pra gastar menos você tem que cortar luxos e quando se corta luxos e trabalha mais você perde na saúde mental e no stress. Então a resposta pra essa é que sim e não. Vai depender muito do que a pessoa busca. Ano passado trabalhei menos e não economizei, viajei, saí, restaurantes, cafés, etc. Esse ano virei a chave pra grana, então hoje saio muito menos, gasto menos com luxos e trabalho muito mais. E está dando pra guardar dinheiro sim sem abrir mão da qualidade de vida.
O JORNAL – Se puder dar uma noção de valores, de gastos, de aluguel, de comida para você e, por exemplo, uma família de três pessoas, por exemplo.
Marião – As realidades são diferentes, posso falar que uma pessoa solteira consegue viver com 1000 euros por mês, mas também uma outra pessoa solteira que requer mais conforto, aí o custo de vida subiria pra 1500 euros por mês. É muito relativo, mas podemos pensar no salário mínimo, um trabalhador full time que ganha o mínimo ganha €1680,00 por mês, se forem 2 adultos e uma criança em idade escolar o valor total seria €3360.00, é possível viver com o básico ganhando o mínimo.
O JORNAL – E de ganhos também?
Marião – O salário mínimo aqui é 10,50 por hora. O estudante pode trabalhar 20 horas por semana, que daria 840,00 euros por mês. Se for trabalho full time aí são 40 horas, dá 1680 euros por mês. Aí vem o jogo de cintura pra conseguir empregos que pagam mais que o mínimo. Por ser o segundo maior salário da Irlanda eu acho que aqui se ganha bem sim.
O JORNAL – E os prós?
Marião – Segurança vem no topo, poder de compra e valorização do trabalho conta muito também. Você não precisa se matar de trabalhar pra ter as coisas. A qualidade de vida aqui é diferente demais do que nos é oferecido no Brasil. Esses prós me seguram aqui.
O JORNAL – Estudo, saúde, segurança, como é?
Marião – Dublin tem todas as características de um bom lugar pra se viver. Se a pessoa quiser tem muitas opções, tanto pagas quanto gratuitas. Como o Springboard, que se você se qualificar pode estudar até de graça. Gosto muito da forma que eles lidam com capacitação profissional, na pandemia liberaram ótimos cursos gratuitamente. Vejo Dublin também como um lugar seguro, pelo menos pra mim. Mesmo sabendo que há diversos problemas de segurança aqui sinto que sou livre pra fazer o que quiser, ando muito a pé e não me sinto inseguro. E isso é uma coisa que eu dou muito valor.
O JORNAL – Teve experiências nessas áreas?
Marião – No começo da pandemia o governo liberou alguns cursos pra quem teve a sua área de atuação prejudicada pelo lockdown. Eu fiz 2 cursos muito bons nesse período. Valeu Irlandinha!! Por outro lado tive uma péssima experiência com o sistema de saúde público da Irlanda. Há alguns anos eu tive uma dor abdominal muito forte e não sabia o que era. Fui pro hospital e fiquei 13 horas esperando pelo atendimento que não aconteceu. Voltei pra casa e no meio da madrugada me ligam do hospital pois tinham me chamado e eu não estava na espera. No final não sei o que tive e ainda tive que pagar 100 euros por ter dado entrada no hospital.
O JORNAL – E os seus planos para o futuro, quais são?
Marião – Atualmente sou estudante de psicanálise, quando estiver apto a atender pretendo me especializar na terapia para imigrantes, acho que o mundo está prejudicando a saúde mental de todo mundo e o imigrante é afetado diretamente no psicológico. Então, penso que poderei ajudar algumas pessoas a terem uma vida um pouco melhor. Estou colocando meu futuro nessa direção. Vamo ver o que vai rolar!
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