Sem tapar o sol com a peneira, o resultado geral do primeiro turno das eleições representou uma inequívoca vitória da direita. Para a esquerda, a despeito de alguns avanços pontuais, se não ficou caracterizada uma derrota completa, pelo menos acionou um estridente alarme e trouxe a necessidade urgente, já, agora, de uma profunda e sincera reflexão.

Para os institutos de pesquisa, as urnas indicaram que tem algo errado, talvez, na metodologia ou na distribuição das sondagens na base territorial. Não sou especialista, mas imagino que, desse jeito, a credibilidade das pesquisas será questionada a cada eleição.

A própria ida de Lula para o segundo turno destas eleições de 2022, mesmo com a margem de seis milhões de votos à frente de Bolsonaro, tem um sabor de frustração para quem – praticamente toda a esquerda – imaginava liquidar a fatura na primeira rodada. A campanha pelo voto útil, muito mal levada, definitivamente não funcionou.

Neste momento, Lula, mesmo em primeiro lugar, pega pela frente um Bolsonaro pilhado não só pela votação que recebeu mas também pela bancada que formou, especialmente no senado, onde levou 14 das 27 vagas em disputa. Os senadores que apoiam o atual presidente venceram em dez Estados. Só o PL, partido de Bolsonaro, elegeu oito. Além disso, Bolsonaro terá um palanque fortíssimo em Minas, com Zema, e em São Paulo, com Tarcísio, que acabou o primeiro turno à frente de Haddad e, de quebra, ajudou a derrotar os tucanos e João Dória.

Nos parlamentos (em Brasília e nos Estados) a vitória da direita, especialmente a mais radical, foi expressiva não só pelos números em si, mas pelo que representam os eleitos. Pois é, meus caros, eis o ponto onde a porca torce o rabo. Damares eleita, Ricardo Sales eleito, Pazuello eleito, Moro e a conja eleitos, Mário Frias eleito, o astronauta Marcos Pontes eleito? Foram eleitos por aquilo que não fizeram pelos direitos humanos? Pela saúde? Pela cultura? Pela ciência? Pelo meio ambiente? Ou foram escolhidos justamente pelo que são?

Se Bolsonaro for reeleito, terá sólido apoio no Congresso, liderado pelo Centrão do Lira. Vai ampliar o discurso golpista, terá forças suficientes para passar as pautas mais conservadoras (e também as mais reacionárias), emparedar o Supremo e colocar em pauta o impeachment de ministros do STF. Ao longo do segundo mandato, poderá indicar mais dois ministros para a corte. Mais dois Kassios, imaginem…

Lula está à frente. Tudo indica que deve vencer. O desafio, daqui em diante, é reconectar-se com esse Brasilzão que, sim, elege Boulos, mas também Nikolas Ferreira, de 26 anos, de Minas Gerais, o deputado federal mais votado do país e que se apresenta como ultraconservador. Eis uma questão posta: quem são, onde estão e como pensam os Nikolas desse país? Por que, aos 26 anos, esse rapaz adere às pautas mais conservadoras?

Uma pista: ele disse que sempre foi hostilizado na faculdade pelos posicionamentos à direita que defende. Ou seja, nunca foi procurado para o diálogo, o esclarecimento, o debate franco. Ao contrário, era alvo de gozação, de isolamento. Deu no que deu.
Outra questão: Bolsonaro desprezou as sugestões dos marqueteiros e dos “moderados” da campanha para baixar o tom, radicalizou na maior parte do tempo (quer dizer, foi o Bolsonaro verdadeiro) e…funcionou. Este é um dado que precisa ser levado em consideração nestas eleições.

Não tenho nenhuma receita, mas algo precisa ser feito pelo campo progressista desse país. Apoios não caem do céu.
Que tal furar a bolha?

 

Adib Muanis Júnior – jornalista 

 

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