Quando cheguei aqui na Itália para iniciar o meu processo de cidadania, em fevereiro, ao falar com italianos e alguns brasileiros, todos desdenharam do coronavirus. Brincaram com a situação e afirmavam que tudo isso não passava apenas uma historinha da China. Os dias se passaram, o governo federal brigou com os estaduais. Situação idêntica com a vivida agora no Brasil. O governo federal queria fechar o comércio e fábricas, o governador local aqui do Vêneto, no norte da Itália, e da Lombardia, não queriam. Aonde já se viu fechar a Itália, país que vive do turismo. Pois bem. Demoraram para tomar uma atitude. Mas no final, com o crescente número de mortos, todos colocaram o “rabo no meio das pernas” e aceitaram a quarentena. Comércio fechado, fábricas fechadas, com exceção de supermercados, farmácias e indústrias de extrema necessidade.
Mas a demora para tomar atitude mais duras tem causado danos horríveis. O desdém e teimosia já causou mais de 8 mil mortos. E deve ainda deixar muita família de luto na Itália. Basta dar uma olhadinha no site do governo.
Após as centenas de mortes começarem a pipocar aqui os mesmos que desdenhavam estão em casa, quietos, com medo de perderem seus familiares mais velhos. Isso não é conversa, não é historinha da China. É realidade. Estou vivendo essa situação há várias semanas. Só saio do meu apartamento para ir ao supermercado. Evitamos ao máximo sair, porque se estivermos com o vírus e de maneira assintomática, podemos infectar os mais velhos e vulneráveis. O momento é de conter o coronavirus.
Aqui no norte as empresas estão fechadas, comércio fechado. Tudo bloqueado. E a polícia na rua multando quem não respeita o decreto que vai até o dia 3 de abril. Só sair de casa em caso de necessidade, para fazer compras, ir no médico ou trabalhar. Continuo aqui, no apartamento, trabalhando para meus clientes, e torcendo para que essa situação se normalize e pare de morrer tantas pessoas por dia. O noticiário é tenebroso e não gosto mais de assistir. Só se vê notícia macabra, faltam caixões em cidades para colocar mortos, funerárias não conseguem cuidar dos corpos, exército precisa retirar corpos e tacar fogo… Torço para esse cenário não se repita no Brasil. Torcemos, juntos, e que façamos nossa parte.
Henrique Fernandes – jornalista
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