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A brasileira Keyla Sena, 46 anos, vive em Limerick, na Irlanda, desde 2019, e desde então tem ajudado outros brasileiros que sonham em morar no exterior. Ela mantém grupos no Facebook e no WhatsApp, onde tira dúvidas e ajuda no que pode para que outras famílias possam trabalhar e estudar fora. Detalhe: tudo é feito voluntariamente. Casada, ela vive com o marido Fred e seu filho, Lucas, de 14 anos. Antes de morar na Irlanda ela passou dois anos em Portugal, mas os salários mais atrativos da Ilha Esmeralda fez com que repensassem viver na Terrinha. “Desde 2012 que pensávamos em sair do Brasil para trabalhar fora e dar uma melhor qualidade de vida para a família. Tudo se concretizou em 2017 com nossa ida para Portugal e depois de 2019 quando chegamos aqui”, conta Keyla.

Nos grupos, Keyla orienta outros brasileiros e famílias. Relata suas experiências e mostra caminhos que possam traçar. “É complicado imigrar. E se tem outro nacional que te dá algumas dicas e são válidas, honestas, isso conta. Sou bem realista e falo o que é fato e não ilusão, sonhos. Só quero compartilhar e tentar ajudar outras famílias. Tem profissional, por exemplo, que quer aplicar para uma vaga, mas sei que em outro país tem mais possibilidade, eu acabo direcionando, dando um norte”, afirma.
Nesta entrevista ela conta um pouco de como começou sua ida para a Europa. “Lá atrás, em 2012, começamos a procurar vagas na área de TI, que é a área do Fred, em vários países. Como já estávamos com um inglês aceitável na época, eu resolvi entender melhor quais as tecnologias que ele usava e que tipo de vaga se encaixaria melhor, pois assim ele poderia focar nos estudos de novas tecnologias, enquanto e eu focava nas vagas – isso implicava também em pesquisar os países e cidades onde aquelas vagas estavam disponíveis. Uma das primeiras coisas era saber em torno de quanto girava um aluguel de apartamento ou casa em bairros familiares. A partir daí dava pra saber por alto se aquele salário oferecido na vaga valeria a pena – cálculo feito em torno de 3x o valor do aluguel”.

Ela continua. “Ao longo da caminhada, entre candidaturas e entrevistas, uma das maiores dificuldades que encontramos foi achar uma empresa que estivesse disposta e pudesse dar Sponsorship, o visto de trabalho, pois não somos cidadãos europeus. Finalmente, em 2017, a convite de uma empresa portuguesa, Fred foi trabalhar como engenheiro de software. Ficamos em Portugal por quase dois anos.

Apesar de Portugal ser um ótimo país, financeiramente ainda estava aquém do que precisávamos. Então, começamos a pensar em sair de Portugal para um país de língua inglesa para aproveitar a vantagem de já falarmos inglês”.

Foi então que surgiu uma nova oportunidade. “Em 2019, a uma multinacional convidou o Fred para assumir uma vaga aqui em Limerick. Para falar a verdade, todas as vezes que pensávamos na Irlanda, o foco era morar em Dublin. Quando viemos visitar a Irlanda em 2018 nem sabíamos ao certo onde era Limerick. Foi uma boa surpresa. Estamos aqui em Limerick desde 2019. É uma cidade pequena, mas tem praticamente tudo que tem em Dublin, com menos trânsito. A Irlanda de forma geral é bem rural! Existe uma piada que diz que a Irlanda é uma grande fazenda”.

Keyla afirma que devido à pandemia, muitas pessoas resolveram sair dos grandes centros e fixaram residência em Limerick para trabalhar homeoffice. “Muitos estrangeiros também estão chegando, brasileiros que temos contato através das redes sociais já estão de malas prontas pra cá. Temos um grupo no Facebook e WhatsApp com famílias de brasileiros que já chegaram e outros que estão à caminho. Temos percebido claramente o aumento nos aluguéis e pouco imóvel disponível. Além da dificuldade em encontrar vagas nas escolas. Ainda não está tão caro quanto Dublin, nem tão escasso, mas já temos sentido o baque. Não quer dizer que seja impossível, mas está mais difícil”.

Ela falou sobre o mercado de trabalho. “Aqui tem muita oportunidade de trabalho principalmente na área de TI, construção civil e farmacêuticas. Se procurar no LinkedIn vai ver que realmente eles estão em busca de mão de obra especializada”.

Keyla também comentou sobre adaptação no exterior. Segundo ela, teve seus altos e baixos. “Ouvimos uma vez que para se adaptar em algum lugar, leva-se em média dois anos e os primeiros seis meses são cruciais. Além de que, cinco áreas da vida precisam estar supridas de forma aceitável: saúde, clima, cultura, família e financeiro. Se alguma delas não estiver suprida, todas as outras ficam prejudicadas, atrapalhando assim a adaptação. Por exemplo: Se a parte financeira não for boa, a família será prejudicada, pois sem economias não se pode viajar para rever os parentes no Brasil – necessidade de 99.9% dos imigrantes – além de que o fator clima será um problema também, pois com salário muito baixo, não se pode alugar uma casa bem estruturada para o frio. Então, gasta-se mais com energia elétrica no inverno…etc. Acaba que uma coisa depende da outra”

Em Portugal, ela disse que não teve problema com alimentação. “Realmente, lá tem muita opção de comida boa e barata. Já na Irlanda, apesar de que, se encontra de tudo nos mercados, as opções para comer fora não são boas e são caras”.

Sobre saúde, ela conta que em Portugal a saúde realmente é boa e barata. “Até a saúde em hospitais públicos era melhor em vários aspectos comparado ao Brasil. Já na Irlanda isso é um problema. O atendimento é precário e o sistema é baseado na relação com as enfermeiras. Tanto em Portugal quanto aqui, atendimento público, não significa de graça – salvo exceções para tratamento de câncer e gestantes. Só que, em Portugal, paga-se no máximo seis euros a consulta pública e 18 euros uma particular pelo plano de saúde. Aqui a consulta no GP (médico de família) é 50 euros, se você tiver plano de saúde, pode pedir reembolso de mais ou menos a metade. Atendimento na emergência do Hospital Universitário (público) custa 100 euros, e pode se programar para ficar no mínimo cinco horas esperando. Eu tive um problema, uma vez, e fiquei oito horas morrendo de dor na lombar, sem poder me mexer, Depois de tudo, me deram um comprimido e me mandaram pra casa com uma receita para comprar na farmácia”.

Sobre o clima, Keyla diz que é bem diferente do que estava acostumada. “Foi um pouco difícil em Portugal, porque o imóvel que morávamos, como a maioria das casas no país, não era preparado para o inverno. Então era muito gelado dentro de casa, principalmente se a casa não for poente. Gastamos muito com a conta de energia no inverno utilizando aquecedor portátil. Porém, tínhamos mais dias de sol e calor durante o ano. Já na Irlanda, as casas são preparadas para o inverno e quase não se passa frio dentro de casa, o que é uma grande vantagem comparada a Portugal. A pessoa vai pagar mais ou menos energia elétrica no inverno, dependendo do padrão energético que a casa possui. Casas possuem padrão energético com classificações: A1, A2, A3, B1, B2, B3, C1, C2, C3, D, E, F G. Sendo que as melhores são padrão A e B – conservam melhor o calor da casa”.

Na Irlanda o frio está fora de casa. “Temos aqui em Limerick a média de 228.5 dias de chuva por ano. Só que a chuva aqui sempre vem acompanhada de vento e frio. Então, temos que aproveitar da metade de abril até a metade de setembro para fazermos passeios ao ar livre, conhecer as ruinas, castelos e as belas paisagens pela Irlanda – aqui não tem lugar feio. Esses são os meses que chovem menos, mas mesmo assim, só temos certeza que o tempo estará bom pra passear, um dia antes pela previsão do tempo, que às vezes até acerta. No inverno os dias são curtos. Dezembro é o mês mais escuro”.

A Cultura do lugar sempre será uma questão sensível na adaptação, segundo ela. “Logo de cara estranhamos o jeitão na lata do português. A maior dificuldade é achar que o Tuga é igual ao Zuca (portuga e brazuca). Não é. Nem a língua. Eles falam português, nós falamos brasileiro. Mas com boa vontade e humildade, porque estamos na casa do parente distante vamos nos adaptando. A coisa boa é a nossa ligação histórica, isso realmente nos faz sentir como se estivéssemos visitando aquele parente que mal conhecemos, mas que existem os laços de sangue que nos une”.

Na Irlanda, a primeira coisa que ela notou foi a educação do povo. “Todos, em sua grande maioria, bem educadinhos, pedindo licença, se desculpando por ter passado na sua frente. Lindo! Porém, acaba nisso. Não são pessoas abertas para novas amizades, eles cultivam as amizades da infância, se relacionam entre as famílias e vivem o mundo deles. Na verdade o europeu de forma geral é mais fechado que o brasileiro, mas ao contrário do português, o irlandês é muito mais fechado e discreto. Ainda assim é mais descontraído que o britânico por exemplo”.

Keyla diz que é difícil fazer amizades com o irlandês. “Na escola o Lucas sentiu bem isso. Em Portugal foi mais fácil. Já em ambientes mais propícios e com mais internacionais como igreja e trabalho, é possível ter uma relação mais amistosa e de convivência. Mas sempre o nosso refúgio de convivência é com as famílias de brasileiros”.

A parte financeira

Portugal deixa muito a desejar. “Lá, eles possuem um dos salários mais baixos da União Europeia. Mas se levarmos em conta a experiência de vida, de mercado europeu, e para criar visibilidade maior na sua área de atuação, vale a pena talvez começar por Portugal, como país de entrada – um trampolim – no mercado europeu. Mas infelizmente não dá pra poupar. Vive-se de forma digna e simples, sem luxo. Pra quem tem o sonho da casa própria, ou deseja ir a cada dois anos no Brasil rever a família e fazer viagens de férias, fica muito penoso, pois o teto salarial de Portugal é três vezes menor que o da Irlanda”.

Já na Irlanda, o salário mínimo gira em torno de 1632 euros – 10,20/h. “Mas em vários setores o valor da hora só vai aumentando. Essa foi a principal motivação para aceitarmos o trabalho em Limerick. Se a pessoa tem cidadania europeia ou o cônjuge fica mais fácil arrumar um emprego. Se não, tem que procurar uma empresa que dê Sponsorship. Muitas empresas, as boas, pagam pelo visto que é em torno de €1000,00.
Mas para empregos dessa natureza são exigidos inglês e formação na área. Para quem não tem inglês, tendo ou não formação, tem bastante trabalho de cleaner, entregas e trabalhos em restaurantes”.

Para quem vem com cidadania europeia, o cônjuge pode requerer o Stamp 4 – green card – e pode trabalhar e até abrir um negócio próprio. “O Stamp 4 pode ser obtido através da comprovação de trabalho do cônjuge europeu ou por recursos próprios. Os dois podem trabalhar full time 40 horas semanais.

Resumo da ópera

Ter uma boa qualidade de vida envolve vários aspectos e tudo precisa se encaixar de forma mais harmoniosa possível. “Vale a pena imigrar de forma legal. É muito bom ser valorizado como profissional no exterior. Mesmo sem ter a proficiência na língua, existem boas oportunidades. E mesmo sem inglês, a pessoa consegue se virar e trabalhar. Depois com o tempo vai-se aperfeiçoando”.

É uma opção voltar para o Brasil? “Hoje não, mas o futuro pertence a Deus!”

“Não é fácil imigrar, deixar a sua terra e parentes para trás – é um preço alto – nunca teremos tudo que nos agrada, porque muitas vezes a realidade é diferente da expectativa. Porém, se não arriscarmos, confiados na boa direção de Deus, não alcançaremos nossos objetivos”.

 

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