Irlanda

A pernambucana Thercia Camilla da Silva, 29 anos, já tinha construído uma carreira sólida no Recife. De origem humilde, superou muitos obstáculos, estudou e ocupava cargo de gerente de marketing na Locomotive, no Recife. Mas queria mais. Não sabia inglês e sempre sonhou em estudar o idioma, se aprofundar e morar no exterior.  Juntou dinheiro, se planejou e embarcou na aventura que mudou sua vida para melhor.  Mas passou muitos perrengues durante essa trajetória migratória do Brasil para Dublin, na Irlanda.  Perdeu dinheiro, foi enganada por desconhecer o idioma e precisou superar uma crise de pânico. Hoje, após quase dois anos em Dublin, trabalha na sua área. É digital marketing strategist na Sooner Than Later, em Dun Laoghaire. Ela afirma que todos os esforços valeram a pena. “Se você tem esse sonho de ter uma vida melhor, venha. Problemas sempre vão existir, mas compensa. E se prepare sempre para o pior. Esteja preparado. O que posso dizer é que vale, vale muito a pena”, afirma Thercia, que usa o nome Camilla Odilon em suas redes sociais.

 

Ela falou sobre o início da sua vida em Dublin. “Cheguei aqui como estudante e não falava inglês. Tinha um bom cargo e remuneração no Brasil, mas eu sonhava em desenvolver a minha carreira no exterior e ter mais qualidade de vida. Cheguei na Irlanda dois meses antes da pandemia. Fiz muito cleaner, porque mesmo tendo mais de oito anos na área de marketing no Brasil e ter passado por cargos de liderança o fato de não falar inglês me impossibilitava de atuar na minha área. Mas me dediquei, estudei muito e planejei estratégias  para entrar em uma empresa, sair do cleaner e assumir um cargo na área. Após seis meses rolou”.

 

A pernambucana já tinha feito cursos de inglês no Brasil, mas não conseguia conciliar o trabalho e os estudos. “Acabava faltando nas aulas e não tendo foco.  Foi aí que entendi que precisasse aprender na marra. Juntar o trabalho e o estudo e na Irlanda isso é possível.  Em um curto espaço de tempo poderia fazer isso.  Juntei o dinheiro, fiz o visto de estudante para oito meses e foquei. Foi uma mudança de vida bem grande.  Vida de estudante e de trabalho é difícil, sofrido, até conseguir o visto de trabalho. Mas, com tantos problemas, consegui enxergar que tomei a melhor decisão da minha vida. Hoje, meu tempo no trabalho é respeitado. Tenho meu horário e não tenho cargas absurdas”. Ela comentou sua relação de trabalho e as diferenças que existem na Irlanda.  “Aqui, o cliente te escuta, ele entende que você é o especialista e respeita sua orientação. No Brasil, via muitos donos de agência que aceitavam quando os clientes mudavam todo um planejamento de marketing sem nenhuma justificativa. Infelizmente, essa é uma realidade no mercado. Sem contar a má remuneração e o acumulo de funções. Isso não é saudável para ninguém”.

 

Camilla adorou a qualidade de vida que conquistou na Irlanda. Trabalha de segunda a sexta e pode aproveitar o fim de semana para viajar, passear com os amigos. “É outra vida. Não se resume apenas a trabalho. No Brasil eu só trabalhava e não tinha uma vida assim. Aqui temos muitas opções de passeios, o custo de vida é melhor. Temos poder de compra também e podemos ter acesso a coisas que eram impossíveis de ter no Brasil. Nosso dinheiro e salário tem valor”.

 

Ela falou sobre os chamados subempregos. Camilla conta que quando o brasileiro chega na Irlanda não pode ter vergonha de trabalhar em empregos como faxineiros, garçons. “Se você não fala inglês precisa fazer cleaner, vai para os trabalhos mais simples. E isso não é vergonha para ninguém. Aqui, por exemplo, dá para ter uma vida tranquila fazendo cleaner. Diferente do Brasil. Mas eu não queria ficar só no cleaner, queria seguir na minha área de marketing. Sou professora de pós e queria estudar mais e melhorar de vida”.

dublin
Camilla num evento de marketing antes da pandemia

Um pouco tempo depois de chegar na Irlanda, Camilla teve uma crise de pânico. “Nunca tinha pisado num lugar tão frio. Pensei que estava tendo um ataque cardíaco. É duro ficar sozinha, se relacionar com as pessoas. Mas depois de um tempo você se acostuma”. Ela deu algumas dicas para quem quer migrar para Dublin. “Minha dica é planejamento.  Venham com dinheiro extra, porque aqui é tudo muito caro. Gastei muito nas primeiras semanas, por falta de conhecimento também.  Por isso é importante saber o idioma.  Aluguei é caro demais. Cheguei sem roupa de frio também. Já passei por muitas situações e perdi dinheiro. Existe muita gente querendo tirar vantagem do estudante. Se aproveitam porque você não fala o idioma, te enganam. Um dia ao ir num caixa acabei perdendo 190 euros só porque errei a transação, por desconhecimento. Tentem entrar em grupos de estudantes, conversem com pessoas próximas, amigos, e estudem muito. Procurem informações oficiais e órgãos oficiais também. E nunca fechem a acomodação do Brasil. Vão ao local antes para checar se é real mesmo”. Camilla é bem atuante na rede e fez um vídeo sobre como conseguiu seu trabalho na Irlanda. Ela também possui um perfil no Linkedin, onde tem contatos profissionais.

 

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