O empresário Márcio Marcassa Júnior é uma das pessoas mais importantes e atuantes na vida do Rio Preto Esporte Clube, dos últimos anos. Ex-atleta, Marcassa viveu na Europa, fala vários idiomas e sempre teve contato com grandes jogadores internacionais. Ele começou a colaborar com o clube, em 2005, a convite do também empresário, Alescio Zaneratti, que comandava as categorias de base. A partir dali começou o seu trabalho, como vice-presidente do Jacaré. O trabalho na base e no profissional deu tão certo que em 2007 o time subiu para o Paulistão. “Naquela época misturamos a base e o profissional logo de cara. Quase subimos no primeiro ano de trabalho, foi por pouco. No último jogo deixamos de subir. Mas ai em 2007 subimos”, recorda.
Marcassa fala na entrevista a seguir ao O JORNAL sobre sua história com o clube. Confira a seguir alguns trechos:
O JORNAL – Como foi o seu início no clube?
Márcio Marcassa Júnior – Fui convidado pelo Alescio Zaneratti, que cuidava das categorias de base, em 2005. Tenho um grande amigo, advogado, que foi atleta profissional na Europa, onde eu o conheci, que é de Votuporanga, que é o Elton Tatuí. Ele também auxiliava e foi até treinador da base. Como nós tínhamos conhecimento e um projeto em conjunto, já que sempre conversávamos na Europa com vários jogadores de primeira divisão como André Cruz, Luciano Dias, Ronaldo Fenômeno, Zé Elias, Emerson. Sempre conversávamos de alguns projetos no estilo europeu para criar uma base nesses parâmetros. Era um sonho que nós tínhamos. Isso para preparar o atleta para o futuro. Não adianta cuidar dos atletas na base para jogar no Brasil, se é para transferir para o exterior depois. E com a base de todos esses atletas que eu comentei a gente poderia encurtar o caminho, desses atletas da base do Rio Preto para levar para o exterior.
Então em 2005, o ex-presidente, Vergílio Dalla Pria me colocou de vice-presidente e fizemos um trabalho bacana. Nossa ideia misturou base e profissional. Logo de cara quase subimos para primeira divisão no primeiro ano de trabalho. Isso foi por muito pouco. No último jogo deixamos de subir.
Acabamos subindo em 2007. Continuamos o trabalho, sempre na base. Tivemos várias revelações como o Delatorre, o Bady, o Matheus e outros diversos. Era uma equipe muito bacana, corríamos atrás de tudo. Sofríamos muito. Tínhamos nossa energia sugada, digamos assim. No final das contas foi bom, pois nos deu solidez e ensinou muita coisa. Não era só base, que já era muito organizada, com professor de inglês, NET, dentista. Queríamos fazer uma base europeia mesmo. Não chegamos a esse extremo, mas alguma coisa muito parecida. O que não conseguimos foram os treinamentos nesse estilo, mas mesmo assim tivemos bons resultados. Tínhamos oito ou mais meninos da base quando subimos, time jovem. Tinha o Luciano Dias como treinador, que era novo, mas com boa experiência de vida.
O JORNAL – E na primeira divisão..
Marcassa – Não tivemos o sucesso de manutenção na primeira divisão pelo fato de sermos uma camisa nova. Não perdemos nenhum jogo com mais de dois gols de diferença, então não houve grande derrota. Hoje alguns times novatos tomam de quatro ou cinco a zero. Foi uma experiência muito bacana, o clube tinha um ambiente bom, apesar de termos alguns problemas com o Dalla Pria – que os negócios não eram sempre tão transparentes. Mas tínhamos uma gerência paralela, até o momento que não deu mais, pelas divergências. No jogo Rio Preto e Corinthians, por exemplo, nós pedimos uma carga de ingresso e anunciaram um público que fiquei chateado com o que ouvi e vi. Resolvi me afastar já que minha família já pedia.
O JORNAL – E o seu retorno ao clube?
Marcassa – Em 2014 fui convidado pelo José Eduardo Rodrigues, por intermédio de um amigo, Fernando Issas, que me falou sobre a ação de uma nova administração. Ponderei muito e conversei muito com o José Eduardo Rodrigues, achei a ideia bacana e gostei das pessoas envolvidas. Nunca tive nada contra o Dalla Pria, até porque tudo que se falava nunca teve provas. Sabíamos que a gestão era muito centralizadora, do jeito que queria, mas às vezes acatava opiniões, dava para ser participativo. Mas fazia muitas coisas do jeito dele, que funcionou durante um tempo, mas achei interessante pois tínhamos que preservar o patrimônio do clube e também ter mais transparência. O clube é dos associados, e todos têm que saber o que acontece, cada real. Não pode esconder nada. Claro que existe planejamento e estratégia, existe situações que não precisam saber enquanto não é feito, para isso existe a diretoria executiva. Depois do que é feito e aprovado pelo Conselho, deve ser muito transparente.
Achava que era hora de renovar e acho que é preciso renovar a cada dois anos, um presidente diferente. Chegar até quatro se for unanimidade e os resultados forem positivos. Agora se existe uma pessoa contra tem que trocar e renovar sempre. O meu primeiro time hoje é o Rio Preto Esporte Clube, pela cidade, por onde eu moro e onde estão meus negócios, onde nasceu minha filha e a cidade merece um time forte na primeira divisão. Não podemos estar onde estamos.
Depois da minha volta em 2014 nós encontramos um clube destruído. Não tinha computador, não tinha documento, não tinha lista de associado, não tinha nada. Foi um clube que praticamente tinha história, mas não as memórias guardadas. Foi feito uma pequena reconstituição. O problema era muita coisa na mão de pessoas e não na mão do clube. Tirando os troféus, o resto não existe. Eu tenho comigo e um dia colocarei a disposição do clube, todo material de mídia de quando subimos. Eu pagava do meu bolso uma pessoa para fazer o levantamento de mídia. Tenho todas as reportagens e os DVD’s dos jogos da primeira divisão filmados. Não adianta eu dar na mão do clube e isso ser perdido. Isso tem que estar na mão do clube se houver manutenção. Hoje não tem nem lugar para colocar isso. Apesar do presidente ser o Fábio Renato, naquela época de 2014, eu praticamente fazia a função do presidente. Não havia dinheiro, encontramos pouco mais de R$ 1 mil na conta. Fizemos um trabalho árduo de recuperação. Um planejamento financeiro. Agrupamos as pessoas – o Márcio Haddad, o Márcio Mendonça, o Ulisses Cury, o José Eduardo, o Tatuí, o Shirtes, o João Dellatorre, o Ortega, o Dimas Fernandes, Suélio Ribeiro, Denilson Lugui, Sebastião Dias, foram muitas pessoas então posso até pecar esquecendo alguém. Formamos um colegiado e isso foi importante para o boom no Rio Preto Esporte Clube, então tudo ajudou na reconstrução. Deixamos o estádio do jeito que ficou. Ele não tinha reformas e tudo estava abandonado, acabado. Hoje deixamos o estádio arrumado, fizemos o planejamento financeiro e trouxemos profissionais para gerenciar. Precisa de investimento. O clube é como uma empresa, aquilo precisava ser gerenciado. O que aconteceu é que, todo mundo tem sua profissão e não vive do clube, então algumas pessoas podem ter cometido erros por excesso de querer ajudar ou fazer, mas não por desonestidade. Coloco minha mão no fogo, não houve nenhuma tentativa de prejudicar o clube. Mas infelizmente o presidente José Eduardo Rodrigues foi tomando posse e fritando as pessoas sempre de maneira agressiva e irresponsável. Criou um clima desagradável entre as pessoas. Foi distanciando as pessoas novamente.
O JORNAL – E o caso do Festeja?
Marcassa – O Festeja, por exemplo, eu participei, fui contra o valor pago, eu queria mais. Mas o jurídico do clube deu o acordo dele. O que acontece é que faltou experiência para falar. Ninguém tinha a ideia do tamanho do evento. Ninguém pode falar que foi ruim para o Rio Preto Esporte Clube. Usaram como pretexto para detonar algumas pessoas, mas o evento foi um sucesso. Existe uma série de situações que se formaram. “Quebrou isso, quebrou aquilo, porque caiu por causa disso”. Mas é mentira, isso foi pretexto para cobrir a incompetência do time que montaram, então acho que faltou profissionalismo na montagem dos times, faltou mais união e infelizmente o senhor José Eduardo foi afastando as pessoas e isso não pode acontecer. Tudo tem que ser decidido em colegiado. Ou abre o clube para o profissionalismo e faz um negócio igual o Novorizontino e o Mirassol, que tem uma pessoa que manda e administra como uma empresa. Tem presidente remunerado. Se não funciona, troca. Uma coisa é ter amor, outra é ser amador. Se for amador vai acabar igual o América.
O JORNAL – A essência é o futebol…
Marcassa – Mas ele também fez coisas boas, foi estrategista. O departamento jurídico foi muito bom, a verdade tem que ser dita, que é a especialidade dele. Mas ficamos estagnados no futebol – e a essência do clube é o futebol. “Ah, fizemos prédios”, mas não somos construtores, é um time de futebol. O estádio ficou bonito, mas temos que dar espetáculo para cidade, ir atrás de torcedores. A torcida é velha. Não tem torcedor novo. Não adianta fazer camiseta GG, tem que ser baby. Nasceu alguém tem que dar uma camiseta do Rio Preto de presente. Mas além de dar a camiseta para o moleque, tem que trazer atrativo, levar a criança para jogar bola no campo. Temos a AME, o campeonato da cidade. Duas vezes tentei levar as finais para o Anísio Haddad. Uma criança de 11 anos que sobe o túnel para jogar uma final de AME, que entra no estádio, até arrepia porque eu já passei por isso. O garoto que está acostumado a jogar em campo de bairro e passa por isso vai querer jogar no Rio Preto Esporte Clube, virar rio-pretense. Uma coisa não vamos tirar da cabeça – o moleque torce pro Barcelona, pro Liverpool, Real Madrid, São Paulo, Palmeiras, mas tem que ter um time de coração na cidade, pelo menos um carinho. Não adianta chegar na primeira divisão e na hora de vender ingresso vender 95% de ingresso para corintiano e São Paulino, Santista. Temos que ter trabalho social, ir atrás do torcedor. Cria lá uma mensalidade de R$ 5 para criança, para dar valor no que está pagando, dá um boné, sorteia uma bicicleta nas cores do clube. Incentivar. Fazer funcionar.
Nós contratamos uma empresa de marketing, eu fui responsável com o Márcio Mendonça. Me fritaram e fritaram os meninos da empresa. Essa empresa hoje fez o que o Botafogo de Ribeirão Preto é hoje. Estávamos errados? Eles estão brigando por acesso na Série B para chegar à série A. Então sabem o que fazem, precisam de apoio, mas pergunta se alguém ajudou? Instalar totens no clube. Eu tenho minha carteirinha até hoje, fui o primeiro. Paguei 12 meses e não funcionou, pois tinham uma filosofia de queimar aquele que fazia bem feito. Precisamos dar continuidade no que faz bem feito.
Em 2015 nós fomos atrás de patrocínio, eu particularmente fui atrás de muita gente. Dizia que “agora mudou, vamos fazer um negócio diferente”, pedia votos de confiança. Muita gente acreditou. Esses dias atrás fui novamente pedir apoio e eles disseram “de novo? Já te dei meu voto de credibilidade, olha o que está acontecendo, olha as notícias nos jornais”. Não dá. O clube precisa melhorar.
O JORNAL – Formulação do Centenário…
Marcassa – Eu participei da contratação do Jô que estava no Olímpia, e só participei porque fui falar com o presidente em uma reunião e eles estavam lá para conversar com o atleta e ele me chamou para participar da reunião. Estava o Carlos Bonfim, o Catanoce, o Vinicius, da estatística, e o José Eduardo. Não participei de mais nada. O time foi montado todo pelo presidente, que pediu para montar o time e depois colocou a culpa em todo mundo. Não adianta colocar a culpa nos outros, tem que saber assumir. Montar um time é complicado, principalmente em campeonatos curtos, mas foi dado todo apoio aos atletas. Como não acompanhei de perto eu não posso falar o que aconteceu. O que eu acompanho no Rio Preto Esporte Clube desde 2014 é que internamente sempre minam as pessoas. Fizeram isso com o Luciano Dias, com o Ricardo Moraes, minaram muita gente. Sempre procuram um culpado, mas o culpado está no Rio Preto, que não querem o bem do clube e eu não sei o objetivo disso. Poderíamos ter feito melhor.
O JORNAL – Fim do feminino..
Marcassa – Fui contra acabar com o futebol feminino. Eu trouxe uma pessoa no fim de 2018 com proposta de verticalização da profissionalização do futebol feminino e masculino. Houve aceite parcial para o feminino, mas o presidente disse que no futebol masculino ele tomava conta sozinho, e que estava cansado de gastar dinheiro e deixar na mão dos outros. O resultado foi o que vimos, não foi diferente e não custou mais barato. Quando trouxe alguém para profissionalizar eu sabia que havia concordância entre vices e sócios. Não adianta o presidente trabalhar com a emoção e ninguém profissional. Não adianta administrar um clube de futebol com a emoção. Isso eu aprendi lá atrás, quando trabalhamos com a base. A vida é assim. Temos custos e investimentos e temos grandes possibilidades de investidores, mas ninguém quer investir em uma diretoria que não está alinhada.
A base hoje existe porque o Ulisses Cury convidou o Edílson Lugui. Foi muito acertado, mas é nebuloso, ninguém sabe de nada. Ninguém sabe quantos atletas foram negociados. Sou da opinião que o clube precisa ser profissionalizado e ter sua própria base. 100%. “Ah isso custa caro”. Mas na hora que revela um atleta isso volta. É só olhar o caso do Mirassol. Olha o São Paulo, em Cotia, olha o Novorizontino com jogador no Real Madrid. O Lugui pode continuar conosco, na parceria, mas a base tem que ser do clube. Amanhã, o Lugui resolve sair igual fez no América, e aí? Perde tudo? Não pode ser assim. Temos estrutura, temos campo, temos vestiário e todas as possibilidades para uma base boa. Não temos tamanho para ter uma base grande, mas temos uma região grande. É impossível não ter uma base forte regionalizada e com baixo custo. Menino entrou, registra. Não pode ficar na mão de treinador. Tem que ter um diretor responsável. Tem que seguir para ser um clube formador, senão perde. Perdemos muito menino antes do Alescio, na época do senhor Arino. Muito menino foi desviado de dentro do Rio Preto Esporte Clube. Um atleta que foi depois para o Fluminense, que esteve envolvido com droga, foi desviado por um técnico que todos sabem quem é, não preciso dizer o nome, e que voltou a pouco tempo e o presidente aceitou. Estávamos perdendo um menino, o Robinho, que depois foi para o Flamengo. Se eu não recolho os impostos ele tinha ido embora de graça. Recuperamos R$ 200 mil. Eu sai das férias e fiz tudo, do meu bolso, por causa de R$ 6 mil teríamos perdido, mas recuperamos R$ 200 mil. Mas na hora de me excluir do conselho o José Eduardo não lembra disso.
O JORNAL – O que fica…
Marcassa – O Rio Preto Esporte Clube é um time extremamente viável. Tenho muita vontade de que tudo se alinhe e que a gente volte a ter um colegiado forte e um empresariado apoiando e a gente leve, em um tempo curto, o Rio Preto para divisões altas do futebol brasileiro e ser referência. Levar o nome para o exterior como fizemos com a base. Quando o Rio Preto subiu para primeira divisão, nós conseguimos uma matéria na mesma revista que tinha matéria do Ronaldinho Gaúcho no Barcelona. São situações que precisamos voltar a viver e o time é viável. Transparência sempre. Tenho muita vontade de fazer coisas boas para o Rio Preto.
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