A busca dos estudantes por bolsas de intercâmbio costuma ser cheia de incertezas e, muitas vezes, solitária. Porém, a lógica das instituições de ensino no controle do processo, aprovando ou não os candidatos, está sendo ameaçada por uma iniciativa inédita no Brasil na qual os estudantes estão no centro das decisões. Determinado a democratizar o acesso às bolsas de intercâmbio, o estudante de Economia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Ângelo Matheus, 22 anos, se inspirou na experiência da empresa canadense Apply Board para criar uma plataforma onde as instituições oferecem as oportunidades e os estudantes interessados escolhem as ofertas mais promissoras.
“Negociamos descontos e bolsas para que nossos clientes possam realizar seus sonhos”, diz Matheus, criador do Bolsas de Intercâmbio (https://bolsasdeintercambio.com.br/). Com apenas dois meses, a plataforma já tem disponível mais de cem bolsas e garantiu um total de mais de R$ 130 mil de descontos aos estudantes encaminhados. Com orgulho, Matheus ostenta uma taxa de sucesso de 100%. “Todos os estudantes que se cadastraram na plataforma receberam bolsas das instituições”, diz.
A plataforma do Bolsas de Intercâmbio facilita a busca em diversas instituições de ensino no exterior. Ao fazer o cadastro, o futuro intercambista escolhe qual instituição e tipo de bolsas lhe interessam. A instituição, após receber a confirmação de interesse, pode ofertar ao aluno bolsas com descontos entre 5 a 100%.
“Nesse momento, empoderamos os estudantes. Eles decidem quais oportunidades e bolsas aceitar. Caso as oferecidas pela instituição sejam insuficientes, o estudante busca outras instituições e programas”, explica Matheus. A plataforma solicita uma taxa de pré-matrícula no valor de R$97,00 apenas dos estudantes que decidem aceitar uma das bolsas oferecidas, para assegurar o interesse no intercâmbio.
A startup de Matheus surge após o período mais difícil da pandemia, para atender um setor em crescimento no Brasil. Em 2019, 386.000 intercambistas brasileiros embarcaram para o exterior. Era um aumento de 6% em relação a 2018 que já havia registrado um salto de 20% em relação a 2017. Além da oferta de bolsas, Matheus prevê novos serviços, como o financiamento para quem não tem o capital necessário para as primeiras despesas da viagem e um programa de cursos voltados para quem busca em especial as instituições mais concorridas do mundo, como Harvard, MIT e Stanford.
Os cursos serão ministrados por mentores aprovados com bolsas de estudo nessas instituições tradicionais e disputadíssimas, indicando como se preparar para disputar as poucas vagas disponíveis. Com convites de parcerias com grandes empresas de intercâmbio brasileiras, a expectativa para 2022 é crescer junto com a demanda dos estudantes brasileiros por oportunidades no exterior.
Intercâmbio nos EUA motivou startup
Matheus nasceu no Rio de Janeiro e mora em Florianópolis onde conclui a faculdade de Economia. De uma família de proprietários de um pequeno hotel carioca, sempre foi apaixonado por turismo e viagens. Aos 16 anos, foi responsável por incluir o hotel em sites como Booking, Tripadvisor e até no emergente Airbnb para ampliar a captação de clientes, feita até então só por telefone ou presencialmente.
“Foi meu primeiro trabalho e primeira fonte de renda”. Ele atendia os clientes por mensagens, organizava serviço de transfer e recebia uma comissão das diárias que eram reservadas pelas plataformas digitais. No primeiro ano de faculdade, começou a pesquisar sobre intercâmbio e no final de 2018 embarcou para morar e trabalhar por 4 meses na Califórnia, nos EUA, durante as férias da faculdade.
Ao voltar, estava decidido a tornar acessível as oportunidades de intercâmbio para mais brasileiros. Em 2020, no início da pandemia, criou com dois amigos a Seu Sonho Intercâmbio, uma consultoria independente e gratuita para indicar as melhores oportunidades de acordo com o perfil dos clientes. A sociedade com os amigos não deu certo e, logo em seguida, ele conseguiu uma vaga em um programa de aceleração de startups. Lá conheceu seu futuro sócio, Tiago Mascarenhas, que reside em Dublin desde 2006 e está envolvido em diversos projetos e startups voltados para Educação. Juntos, eles criam o Bolsas de Intercâmbio.