O empresário Shirtes Pereira é uma das pessoas que mais contribuíram com o Rio Preto Esporte Clube, nos últimos anos. Shirtes foi jogador do clube, na década de 70, antes de fazer carreira em banco e na área de seguros. Esportista desde jovem, ele ainda joga futebol e encanta pela bela forma física. De 2009 até 2018, ele ocupou diversos cargos dentro do Jacaré, todos sem remuneração. Era um faz-tudo, só fazia ajudar o clube. Fechava contrato de patrocínio, foi diretor de futebol , da base, e vice-presidente. Também foi tesoureiro, mas não concordando com o que está sendo feito com o dinheiro do clube, resolveu renunciar. Confira um pouco do que falou Shirtes Pereira na entrevista a seguir.
O JORNAL – Fale um pouco da sua relação com o clube.
Shirtes Pereira – Até 2014 tínhamos uma gestão do antigo presidente e eu participava desde 2009. Por uma decisão particular eu apoiei as categorias de base, já que eu tinha relacionamento com o Guilherme Dellatorre, naquela ocasião, e nós resolvemos ajudar no processo que estava acontecendo e que tinha uma gestão do Alescio (Zaneratti) na base e nós ajudamos inclusive com verba. Compramos uma cota de patrocínio. Depois da disputa do Paulistão (2008) nós resolvemos ajudar o Rio Preto EC, então falamos com o presidente, que tínhamos algumas ideias para desenvolver no clube, queria ajudar, principalmente no marketing e patrocinadores, e o presidente na época não tinha muita gente e acabou achando importante esse trabalho. Fizemos um grande trabalho até 2014, principalmente na busca de patrocínio para os uniformes, não tínhamos essa condição antes. Vários patrocinadores de camisa e de estádio passaram a colaborar. Nestes nove anos que viabilizamos os patrocinadores deixamos de pagar a terceiros mais de R$ 500 mil. Esse número representa para mim uma grande contribuição que um abnegado destinou ao clube.
O JORNAL – Ai vocês acabaram rompendo.
Shirtes Pereira – Aconteciam muitos fatos nas reuniões de conselho, de diretoria, que não tinha clareza e ficava sem explicação plausível e chateava bastante. O clube também não tinha postura profissional para atingir os objetivos profissionais que a gente queria. Foi onde nasceu o Grupo dos 7, liderado pelo atual presidente, e que começou a questionar essas posições e partimos para um processo de mudança de 2014 para 2015. Participamos na elaboração de tudo isso, mas a ideia principal era do atual presidente para tirar o antigo e fazer uma nova gestão, com proposta de alternância de presidentes, entre os onze que estavam nomeados para vices e havia oportunidade de fazer uma mudança com os que estavam afastados e tudo isso agradou bastante. Eu digo que isso só aconteceu porque o presidente do Conselho na época (o mesmo hoje) se colocou do nosso lado. Se não tivemos ele seria muito difícil, mas como o estatuto do clube dá muitos poderes ao presidente do Conselho, nós conseguimos tirar aquelas pessoas que estavam ali e não estavam fazendo um trabalho que julgávamos ideal. Fizemos a transformação, mas na primeira diretoria já tivemos problema. Nomeamos um presidente provisório e depois colocamos um definitivo, que foi o Suélio, que veio com muita vontade de ajudar e trabalhar, e se juntou aos vices. Eu exercia o cargo de diretor de marketing, mas também era vice-presidente. Esses vices conversavam e assumiram certas pastas, tinham coisas para serem feitas, várias diretorias e funções administrativas. Esse trabalho começou de forma dinâmica e participativa, um colegiado, que era a proposta inicial, para que quem subisse para presidência tivesse conhecimento de base. Mas tivemos problemas de ordem e ideia, problemas de egoísmo e autoritarismo de alguns, como o caso do atual presidente. Isso fez com que o grupo não atuasse de forma coesa, nos bastidores tinham muitos problemas, muitos achismos e interpretações diferentes.
O JORNAL – Foi ai que começou a debandada dos vices, então?
Shirtes Pereira – Isso gerou muito problema para o clube. As próprias melhorias que foram feitas. O problema que o Festeja trouxe para o gramado. Tudo gerou um desgaste muito grande que foi roendo as estruturas iniciais do clube. Hoje estamos em um processo ruim, como se fosse um retrocesso. O presidente tinha sido eleito para gestão até 2019, e se reelegeu, o que não era para ter sido feito. Tivemos a debandada dos vices, que eram pessoas da família que constituía o Rio Preto na origem, como o Márcio Haddad e o Ulisses Cury, e tantos outros que saíram do Conselho, porque não gostaram de como foram feitas as coisas. Isso faz com que o clube perca o ideal de crescimento para subir para a elite do futebol. Creio que o Rio Preto passa por um processo gravíssimo de elitização e falta de alguém ou grupo que tivesse a frente e focasse no futebol. Esse sendo o principal produto. No clube tem políticos que fazem do clube uma plataforma política, um palco, e tudo que eles sabem fazer, mas para um time de futebol não serve. Não serve porque não atende as necessidades e o Rio Preto fica numa situação difícil. O clube tem patrimônio, mas isso acaba se houver uso errado – caso faça mal uso ou não apoio para que se faça uma coisa maior. Então o Rio Preto precisa crescer como estrutura econômica e viabilidade e ele não tem.
O JORNAL – O patrimônio está indo embora?
Shirtes Pereira – O clube não tem sócio torcedor, não desenvolve campanha de novos sócios, não fez nenhum tipo de atrativo nas suas estruturas como no poliesportivo que está parado. Hoje temos o Shopping Iboruna que dá uma retaguarda boa, mas é preciso fazer mais. Os edifícios que estão sendo feitos em parceria, que o Rio Preto vendeu parte do patrimônio, não está trazendo o conforto que deveria, já que parte do patrimônio foi negociado para trocar o time nesses anos (2017, 18 e 19), então não vai ter retorno. O clube precisa repensar tudo que tá acontecendo lá, precisa tirar essa diretoria, porque ela não está focada nos objetivos do Rio Preto Esporte Clube. Não é o que fizemos lá atrás, que lutamos para o Rio Preto, apenas como colaboradores, não condiz com o que pensamos, e isso traz hoje um clube dividido. Não é um clube que tem seu presidente, seus vices, diretoria e conselho certinho, não, hoje é dividido e isso faz mal para o Rio Preto. As pessoas que estão lá não conseguiram entender esse processo, mas deviam ter entendido já que estavam com a gente, o presidente do Conselho que estava na mudança em 2014 e o atual presidente que foi o líder da revolução. Não dá para entender, ou entendemos de forma lamentável que o que foi feito soa como algo que não era realidade, não era o objetivo daquelas pessoas. Nos sentimos iludidos, mas trabalhamos para ver se a gente consegue de certa forma retomar o clube para cumprir sua função. O clube não é de pessoas, como diziam lá, não é do presidente, do conselho ou direção, o clube é da sociedade, dos torcedores. As pessoas que estão lá não agem assim. A gente precisa retomar o clube para desenvolver o esporte que é muito importante na cidade, para o crescimento do Rio Preto Esporte Clube – tem patrimônio, tem condições de evoluir, mas do jeito que tá ficou difícil, preocupante até. Mas espero que a gente consiga, judicialmente ou da forma legal, mudar o estado que está lá. Estamos nos esforçando para isso, com advogados trabalhando para isso e vamos ver se os juízes da Comarca entendam o que é melhor para o clube e para a sociedade, porque sem que eles tenham noção da importância da interferência jurídica nesse momento, não vamos voltar para aquele sonho de 2014.
O JORNAL – Você jogou no Rio Preto Esporte Clube, também?
Shirtes Pereira – Tive uma passagem na época de Anísio Haddad. Em 1977 participei da equipe profissional do clube. Então a gente tem uma relação esportiva, de caráter futebolístico. Isso nos levou, em 2009, a nos juntarmos ao Rio Preto EC e participar de um processo que tinha o antigo presidente que foi destituído em 2014, para fazer uma nova gestão, uma nova era, um colegiado. Tínhamos 10 vice-presidentes na primeira diretoria pós-mudança, de 2015 a 2017. Esses vices foram colaborar, tinha o Márcio Luiz Mendonça como vice-presidente administrativo/financeiro, o Antônio Dráuzio Badan Junior, como vice-presidente de futebol, o Ulisses Jamil Cury como vice-presidente de obras, o Denilson Lugui como vice de promoção e propaganda, Shirtes Pereira como vice de marketing, José Luiz Franzotti como vice-presidente de planejamento, Marcio Marcassa Junior como vice de relações institucionais, Marcio Haddad como vice-presidente de patrimônio e Sidnei Oliva vice-presidente de futebol da base, e atual presidente era vice-jurídico e cultural.
O JORNAL – E o Grupo dos 7?
Shirtes Pereira – Não existe mais, já que o atual presidente e presidente do Conselho acabaram com o grupo, que hoje já não se reúnem, por descordarem das atitudes que o atual presidente tomou a frente do clube. Isso fez com que todos se afastassem e parece que isso era desejo do próprio presidente atual, que isso ocorresse, porque ele não fez nada para mudar. Na diretoria que ele assumiu a presidência nós aumentamos os vices de 10 para 13, e os 13 constituintes tivemos a entrada justamente do Sebastião Dias Filho, que entrou no mandato do atual presidente e está até hoje. Todos os outros saíram. Hoje há um esvaziamento profundo no Rio Preto Esporte Clube, e isso é preocupante, não se consegue conduzir o clube em uma única mão, ou sem os que estiveram lá e concederam essas mudanças. É muito preocupante a situação atual do Rio Preto. Precisamos contar com um processo de retomada desses vices e outros que venham fazer parte. O clube não pode ficar não mão só de algumas pessoas, ou pessoas que não possam dar o que o clube necessita.
O JORNAL – Vocês contribuíram para várias conquistas de 2014 até aqui…
Shirtes Pereira – Sobre as conquistas de 2014 em diante, nós nunca tínhamos sido sede da Copa São Paulo de Futebol Junior. Foi uma luta grande trazer pra cá, mas era uma reinvindicação de alguns diretores e sócios e isso foi obtido junto a Federação Paulista de Futebol e em 2016 e 2017 tivemos o Rio Preto como sede, o estádio Anísio Haddad como sede da Copa São Paulo. Isso deu credibilidade e abriu uma porta muito grande e um contato maior com o torcedor. Lembro também da exposição do clube no Riopreto Shopping mostrando nossas conquistas e números. Todos os trabalhos de marketing foram importantes, como divulgação da Lyoness – junto com os sócios torcedores, fizemos uma divulgação no Félix Petroli, onde juntamos muita gente para fazer apoios, muitas empresas apoiaram o projeto, mas infelizmente não avançamos. Outra coisa que podemos chamar de conquista, um processo que deu muito prazer, foi nosso acesso em 2016 para Série A-2. Uma pena que no ano seguinte nós caímos. Mas em 2016 montamos uma boa equipe, competitiva, prestigiada pelos torcedores. Mas voltamos para a A-3, devido talvez em uma gestão não tão eficiente que tivemos em 2016. Outro aspecto que é importante ressaltar, no trabalho, que foi do mérito do presidente que colocamos em 2015, mas os vices, foram as reformas no estádio Anísio Haddad, como as cadeiras cativas, os banheiros, tudo que envolveu a parte de comunicação, placas de publicidade, isso tudo ganhou corpo diferente, o estádio ficou mais moderno e prestigiado pelos patrocinadores e quem ganhou com isso foi a equipe, 40% da receita do clube vinha das cotas de patrocínio. O Rio Preto nunca tinha tido isso. Sempre tivemos problemas de patrocinadores e conseguimos grandes empresas da região como a Unimed, Poty, Kodillar, que apoiaram o clube, o grupo Rodobens também apoiou numa certa época e tudo isso foi uma conquista que poderia ter tido continuidade, mas esbarrou na atual atuação da presidência que não valoriza esse tipo de coisa e não se entende com os patrocinadores. O Rio Preto perde muito com isso. Todas essas melhorias faziam parte do processo de crescimento. Foi interrompido agora porque a visão que está lá dentro não é de futebol, mas visão política, que destrói o trabalho de socialização e envolvimento das pessoas. Infelizmente a política não gosta disso, gosta de setorizar e fazer coisas que o futebol não permite. Sem falar da base, que hoje foi um trabalho que nós fizemos e que o Rio Preto não tinha visão para isso e é a única coisa que sobrou, mas se bobear acabamos perdendo. Assim como o feminino que nos deu muita alegria e hoje vemos que o futebol feminino cresceu no Brasil, mas no Rio Preto Esporte Clube decresceu, por ações dessa nova diretoria que não tem olhos para essas coisas, já que não vê o futebol como deve.
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