morar na irlanda

São histórias inspiradoras de brasileiros que abandonaram uma vida em busca de sonhos, qualidade de vida ou um futuro melhor para os filhos. Cada vez mais brasileiros cruzam as fronteiras e embarcam para uma nova realidade, na Europa. O destino de grande parte desses brasileiros é a Irlanda, por possibilitar que estrangeiros entrem no país para um intercâmbio da língua inglesa e trabalhem por dois anos.  São histórias como da costureira Maria Eliete Fernandes da Silva, de 62 anos. No ano passado ela chegou para morar na Irlanda. Maria Eliete contou um pouco da sua vida, que é repleta de realizações.

“Nasci numa cidade pequena do Ceará, mas fui criada em Fortaleza, capital. Comecei a viajar ainda criança, meu pai amava mudar de cidade e até de estado. Ele era meio nômade.  Após 42 anos de um casamento, com uma relação abusiva, decidi obter minha liberdade.  Na época minha mãe estava doente e passei a me dedicar a ela juntamente com minha irmã caçula.  Depois de um ano de batalha contra o câncer, nós a perdemos.  Entrei em depressão e resolvi viajar de férias. Eu já tinha esse sonho de conhecer outros países desde adolescente. Então comprei as passagens para UK, o país dos meus sonhos era a Escócia. Mas ao conversar com um amigo, que vinha para a Irlanda fazer intercâmbio, descobri que era possível para minha idade. Não pensei duas vezes.  Comprei o curso, arrumei as malas e vim. Só com os 3 mil euros para comprovar e uma prestação enorme pra pagar. Na época comprei o curso no cartão de crédito. Toda minha família reprovava essa ideia, achavam uma loucura porque eu não falava uma palavra em inglês”.

Maria Eliete: “o que ganho dá para viver bem, viajar e ainda sobra para ajudar minha filha. E já reformei minha casa em São Paulo”.

Maria Elite afirma que não teve problemas com adaptação.  “Não tive nenhum problema com adaptação. Não encontrei nada que fosse difícil para mim. Aqui estou eu morando na Irlanda. Sobrevivente do preconceito. Para provar que não existe idade para recomeçar e ser feliz. Estou trabalhando na minha área, feliz e agradecida a Deus por tudo que tenho vivido. E detalhe não pretendo voltar. Arrumei um boyfriend e pretendo casar ainda esse ano”. Ela só acha um pouco complicado a questão da saúde pública no país. “Só a questão da saúde pública que acho difícil aqui. Tipo atendimento médico que requer internação, exames.  Dentista também é complicado. Mas de resto, o que ganho dá para viver bem, viajar e ainda sobra para ajudar minha filha. E já reformei minha casa em São Paulo”.

A professora Paty Cruz, de 48 anos, abandonou sua vida de professora concursada em São Paulo e hoje vive também na Irlanda. “Com 42 anos surtei dentro do trânsito de duas horas para casa todos os dias. A rotina de São Paulo me consumia a alma. Vim decidida a ficar e sabia que iria enfrentar coisas que talvez me fariam desistir. A primeira foi a perda do meu investimento. Minha escola, depois de três meses, fechou. Mas, como já tinha meu visto de um ano decidi ficar. Fui morar com uma família irlandesa como au pair, neste mesmo ano conheci meu marido, nos casamos no final do ano seguinte. Hoje, trabalho como minder em uma família sensacional, a minha hora é muito mais do que se eu decidisse voltar a trabalhar com escolas e no terceiro ano aqui até surgiu uma oportunidade, mas prefiro cuidar de uma criança somente e  ser muito bem paga para isso”, conta Paty que começou a estudar Ayurvedica há dois anos atrás e hoje tem uma sala para atendimentos terapêuticos. Ela viaja para o Brasil anualmente e fica sempre dois meses. “Viajo muito por aqui, principalmente no verão. Cheguei aqui em 2015 com quase 43 anos e, após cinco anos, afirmo que a Irlanda com certeza é minha segunda casa. Este ano vou buscar a cidadania Irlandesa. Aqui ganha-se bem, mas os gastos também são altos. O aluguel para uma pessoa em um quarto single gira em torno de 600 euros, apartamentos com dois quartos 1500 euros, mercado semanal para três, que é o meu caso, 140 euros, bus 30 euros semanal. Faço aulas de dança, violão, academia e inglês particular. Meu filho está aqui agora fazendo mestrado, meu ex-marido e eu decidimos ajudá-lo nesta última etapa. Para cidadão europeu gira em torno de 6 mil euros um curso e para não cidadão o dobro”.

Paty deixou seu emprego como professora concursada e agora mora na Irlanda

Paty diz que os primeiros dois anos foram difíceis. “Depois você se adapta, conhece a cultura, o idioma e aprende a não desanimar no primeiro perrengue. De tudo isso eu só posso dizer que tive muitos anjos no meu caminho, muitos choros de saudades, mas com a vontade imensa de sair da minha estagnação de somente reclamar. Dei um giro de 360 graus  com direito a voadora no quesito mudança. Faria tudo de novo”.

Outro paulista, Douglas William de Assis da Silva, de 42 anos, é supervisor de kitchen porter em Dublin. Está na Ilha há mais de dois anos. “Chegar aos 40 é algo que nos preocupa e buscamos um futuro melhor. Eu não via e não tinha expectativas no Brasil. Por intermédio de um amigo que já morava aqui em Dublin, em um ano eu me planejei, joguei tudo para cima e vim para Dublin. Cheguei aqui no dia 10 de fevereiro de 2018. Tive a melhor sensação possível. Para mim, foi incrível acordar em outro país. No início, o mais difícil era a relação com a língua porque eu já havia estudado, porém muitos anos atrás. Eu tinha uma noção, mas quando você chega aqui você pode se convencer que não fala absolutamente nada. No início, claramente não foi fácil. Nos adaptarmos com o frio brusco, neve e nova cultura é algo que apenas o tempo pode resolver. Porém, eu estava determinando a enfrentar todos obstáculos. Eu vim de peito aberto e disposto a todos os desafios. Eu me convencia dia a dia que eu estava no lugar certo e lutei demais para estar aqui. Desejei estar aqui e não poderia falhar. Então tudo o que poderia fazer é enfrentar meus medos certo de que eu viria para vencer”.

Douglas: “conheci países que eram sonhos de criança”

Douglas não pensa em voltar ao Brasil. “Aqui temos milhões de oportunidades. Temos Segurança. Um governo que funciona e um poder aquisitivo gritante comparado com o Brasil. Não me arrependo absolutamente de nada. Nesses dois anos que moro aqui, eu fiz de tudo sempre para viver bem. Trabalhei e estudei muito. Conheci países que eram sonhos de criança. Então, faria tudo de novo”, afirma Douglas, que trabalha na empresa Dropbox e divide um apartamento com outros estudantes. Ele conta que sua hora paga na Irlanda gira em torno de 11 euros.  Um dos problemas, segundo ele, é a saúde para não cidadãos europeus. “A espera é absurda e os valores são exorbitantes para exames. Para ser atendido rápido você precisa estar praticamente morrendo para conseguir uma vaga. Graças a Deus eu nunca precisei depender de hospital. Apenas fui em uma clínica particular realizar um procedimento quanto ao problema que tive nos ouvidos”. Os planos de Douglas agora são o de finalizar o último curso de inglês e em fevereiro iniciar a sua graduação em business.

Ele deixa uma mensagem positiva para quem deseja morar na Irlanda. “Sempre motivo as pessoas a tentarem algo novo, independentemente da idade. Aqui eles medem tudo por sua competência e disposição. Idade é apenas um número.  Se você tem a oportunidade não deixa escapar. Aqui não é fácil e nunca será, mas se você vier determinado, disposto, certamente você irá alcançar uma vida de sucesso. O mundo quem colore somos nós e nele está cheio de pessoas pessimistas sem perspectivas nenhuma de futuro e melhorias. Eu sempre falo para todos: fiquem longe de qualquer vestígio de negatividade. Lembrem-se sempre de onde vieram e da luta para chegar aqui. Não desistir e aguentar firme porque a luta é árdua, mas que irá valer muito a pena”.

Cidadania italiana, separação de 11 meses e encontro da família na Irlanda

Luciana, de 47 anos, e Rizzieri Rinaldo, de 52, são de São Paulo, e trabalhavam em grandes grupos no Brasil.  Luciana, administradora, atuava como secretária executiva, trabalhou no Grupo Anhanguera e multinacionais como Philips e VIVO. Rizzieri foi supervisor de logísticas de grandes empresas, como Philip Morris, Coca-Cola e Ambev. Com dois filhos pequenos e com a crise crescendo no Brasil há alguns anos, não pensaram duas vezes e decidiram planejar a mudança para a Europa.  Antes, queriam ter o passaporte europeu. A primeira atitude foi tentar obter a cidadania portuguesa.

Em 2016, Luciana e seu irmão começaram a procurar por documentos para dar andamento na cidadania portuguesa, pois são netos de portugueses. “Meu avô paterno nasceu na Ilha da Madeira e migrou para o Brasil com 22 anos. Infelizmente, pelo fato do meu pai já ser falecido, eu e meu irmão entramos em outra parte da lei portuguesa, que exige laços de efetiva ligação com Portugal para conseguir a cidadania.  A cidadania portuguesa não é igual a italiana, que não tem limite, desde que você tenha todos os documentos até o antenato”, conta ela.   No final do ano de 2018, Rizzieri já estava com problemas no trabalho e estava esperando que a empresa fizesse o seu desligamento, fato que ocorreu no início de 2019.  Foi aí que Luciana e o marido falaram com um primo que estava vivendo na Irlanda e tinha conseguido a cidadania portuguesa.

“Comentei com o meu primo Ricardo sobre nossa situação aqui no Brasil e ele me perguntou se nós não tínhamos vontade de viver fora do país e disse que a Irlanda era um bom lugar para viver e que seria uma excelente oportunidade para meus filhos na educação, segurança e qualidade de vida.  Falei com meu marido e vimos que nossas opções também não eram as melhores, tendo em vista que eu também estava desempregada e a recolocação estava muito difícil por conta da idade. Nesta altura da vida, quando ficamos muito tempo em boas empresas, os salários ficam relativamente altos e quando acontece o desligamento, além do preconceito idade, tem a questão salarial.   As empresas não conseguem pagar o que se ganhava no último emprego e podem contratar um jovem aprendiz e pagar metade da metade do seu salário.

Infelizmente no Brasil, passou dos 40, os processos seletivos ficam bem mais difíceis, mesmo nos dispondo a baixar salários e até cargos.  Diante desta situação, vimos uma oportunidade para começar tudo de novo.  Só que em um novo país.  Já que nós dois tínhamos que buscar recolocação, decidimos apostar tudo em uma nova vida. Mesmo que pra isso fosse necessário começar do ZERO.

Como não tinham conseguido a cidadania portuguesa, a opção foi Rizzieri dar andamento na sua cidadania italiana, por ser neto de italiano. “Primeiro meu marido foi para a Irlanda como como estudante, ficou morando com meu primo Ricardo e eu fiquei no Brasil com as crianças, pois estavam em início de aulas e nós ainda não tínhamos a cidadania.  A ideia era ele vir, estudar, trabalhar e conseguir a grana para dar andamento na cidadania italiana, já que ele é neto de italiano e tinha todos os documentos do italiano.  Quando resolvemos falar com a família, o sobrinho do Rizzieri resolveu abraçar a ideia da cidadania e se programou para ir pra Itália na mesma época para fazerem o processo juntos.  Durante o tempo do curso dele aqui em Dublin, eu e o sobrinho dele corremos para fazer a documentação para levar para a Itália, contratamos uma assessoria (que foi uma porcaria e infelizmente só descobrimos durante o processo na Itália)”.

Luciana e a família passaram uma barra nesse período. “Em outubro de 2019 meu marido embarcou para Itália e meu sobrinho saiu do Brasil rumo a Itália. Se encontraram na comune, na região de Roma, aonde ocorreu o processo. O processo de cidadania foi muito dolorido, sofrido demais da conta.  Eu e meus filhos desembarcamos em Dublin no dia 22 de janeiro deste ano e meu marido chegou em Dublin no dia 25. Infelizmente por conta dos problemas com o assessor, os documentos atrasaram muito para sair e meu marido ficou na Itália mais tempo que o previsto.  Ficamos 11 meses longe. Meus filhos e eu sofremos muito com esta distância. Minha filha teve vários episódios de febre, vômito e choro por conta da ausência do pai, apesar de falarmos diariamente pelo vídeo. Porém, logo depois de chegarmos aqui, veio a crise do COVID e nossos planos ficaram estacionados”.

Luciana, o marido Rizzieri e os dois filhos. Foto foi feita na despedida de Rizzieri no aeroporto de Guarulhos, no dia 18 de março de 2019, data também do aniversário de 11 anos do filho do casal

A família está bem agora. “Meu marido trabalha em uma empresa irlandesa e no Deliveroo para completar a renda. As crianças estão sem escola por conta da COVID-19. As escolas reabrem somente em setembro.  Já consegui meu visto, porém não posso trabalhar porque tem as crianças para cuidar.  Viver em Dublin é caro, porém, se for para cidades um pouco mais afastadas, mesmo na região metropolitana de Dublin, a situação é bem diferente. Ainda não tenho como falar muito sobre a vida aqui, pois estou tendo mais tempo de confinamento do que uma vida normal por aqui. Mas posso adiantar que o país é lindo e as oportunidades de trabalho para os maiores de 40 são as mesmas oferecidas para os jovens de 20, 30 anos. Não tem discriminação”. Ela faz um alerta. “Para quem vem com cidadania a situação também é bem diferente, nem se compara a de um estudante.  Aqui tem pessoas do mundo todo, diversas nacionalidades. Meus filhos estão gostando, apesar de termos tido pouca oportunidade de sair. Nas vezes que pudemos sair, fomos em parques, lugares públicos para crianças. Quanto ao inglês, eu e meu filho já temos mais habilidade com a língua, minha filha ainda está aprendendo. Meu marido também já se comunica bem em inglês, então, fica mais fácil”.

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