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O que significa comunicação religiosa? Seria um estar falando sobre um dizer, um trocar de idéias, um clamar da alma, um discurso inflamado ou excitado, que vem tentando buscar um sentido para a vida, para que o nosso caminhar nesta estrada tenha um horizonte, um porto mesmo que não seja seguro, mas que nos aporte, embora para os empiristas e/ou positivistas sem sentido, como muito bem posto por Rubem Alves. O sentido incrustado no discurso religioso é encontrado e enfrentado a todo o momento em vários setores de nossa vida.

A religião pode ser entendida como desejo, segundo Freud, um querer utópico de que nossas vidas sejam repletas de satisfações e realizações, desejo que tenhamos um pai que possa ser responsável por tudo, um freio para nossos instintos mais primitivos e autênticos. Esse desejo tem por razão a necessidade de conter aquilo que temos de mais intimo, mais puro e intrínseco, e que por muitas vezes não traduzido em palavras, mesmo por falta de palavras que consigam dar conta de expressar o mais íntimo de cada um de nós, assim como descreve Feuerbach: “A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão pública dos seus segredos de amor”.

Mas nos deparamos com uma pergunta, como lidar com nossos desejos, nossas dúvidas neste mundo tão explicado e explicitado pela razão e descrição da ciência? Então estaríamos tratando a religião e seu discurso como sem sentido e tradução para com o principio de realidade? Se for isso como falar de religiosidade a crianças, jovens e adultos? Pensamos que é possível conversar sobre o discurso religioso, como se fala sobre os sonhos, pois assim como os sonhos que nos conduzem ao passado, paraíso em que havia a união perfeita e divina com o seio materno, embora para Freud os sonhos também possam representar as manifestações de nossos desejos, os mesmos estão fadados ao fracasso e assim à religião encarada como desejo e sonho também estaria confinada a um derradeiro fim.

O que vemos é justamente o contrário, pois a capacidade de sonhar e desejar, mesmo que não se possa realizar, tem permanecido em todos nós e com certeza irá ser assim por toda a eternidade de nossa existência enquanto seres vivos e pensantes. Mas o que realmente seria essa capacidade, esse lampejo de desejos que se configuram em sonhos, depois em crenças e religiões? Acreditamos que esse lampejo e capacidade seja o que temos de mais intrínseco, que vai sempre estar tentado ser posto do lado de fora, como uma construção utópica de nossa realidade, uma nova realidade oriunda dos nossos sonhos e desejos, de nossas revelações públicas, embora indiferentes à realidade externa e por isso conflitantes.

Assim o discurso religioso nada mais poderia ser do que o clamar de nossa alma a respeito do que realmente somos, queremos e precisamos para obter a tão sonhada felicidade, mesmo que em sonhos.

Marcus Phlavio Goes dos Reis

Psicólogo CRP 06-84081. Psicanalista. Endereço: Avenida Leôncio de Magalhães,  1100, sala 02, Jardim São Paulo. São Paulo/SP. CEP 02042-001. Fone : (55 11) 95909-1850 e (55 11) 4102-3261 Whatsapp.

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