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O ex-bancário e atualmente jornalista e escritor, Luiz Fernando Guimaraes Ortega, tem um caso especial com o Rio Preto Esporte Clube. Ele chegou na cidade em 1985 e foi morar logo ao lado do estádio Anísio Haddad. Esportista, sempre gostou de jogar futebol e foi assistir alguns jogos do time. Se encantou. Ortega, como é mais conhecido, exerceu várias atividades no Jacaré desde então. Sempre como voluntário. Foi técnico, auxiliar, diretor, Conselheiro, tesoureiro e vice-presidente em 32 anos dedicados ao clube do coração.  Sobre o momento em que vive o clube, ele se diz muito triste e espera que a Justiça faça sua parte. Confira abaixo entrevista que O JORNAL fez com ele.

O JORNAL – Como entrou para o Rio Preto EC?

Luiz Fernando Guimaraes Ortega  – Vim para Rio Preto em 1985 e morei ao lado do estádio, na Vila São Pedro, ao lado do Hospital de Base. Eu não sei por que, mas não me encantei com o América e ao mesmo tempo me encantei com o Rio Preto. Procurei, naturalmente, ver alguns jogos do Rio Preto na época e me lembro que em 1987 eu fui ver um jogo amador (sempre joguei e quase me profissionalizei, ainda bem que não, não prestava. Era ruim de bola, um técnico me disse isso, o Alfredinho Sampaio, disse que se eu conhecia o campo, eu estava do lado errado, eu tinha que assistir, e ele tinha razão) fui ver um campeonato amador na Cidade das Crianças, no Campo  2, que é o principal. Para minha surpresa eu vi três pessoas com uniforme do Rio Preto e abordei. Disse que gostava do clube, eram o técnico, o preparador e o roupeiro do time de base, que estavam treinando no Campo 1. Falei que gostaria de conhecer e fazer parte. Era o Sérgio Ramos, que depois descobri que era meio doido, nem sei se tá vivo. Através dele me envolvi no futebol do Rio Preto Esporte Clube, mas na base. Comecei a cuidar dos times de base, Sub-11, Sub-13 e Sub-15. Comecei a cuidar da criançada e nós treinávamos toda semana na Cidade das Crianças. Me empolguei com isso e entrei na diretoria participando da base.

O JORNAL – Você teve outras funções no clube?

Ortega – Depois participei da diretoria como um auxiliar, na época do Vergílio Dalla Pria. Ele era deputado, tinham pessoas muito importantes da época, como o Najar, o Eli Buchala, Farid Maluf, pessoas que participavam do Conselho, eram da diretoria, comecei a trabalhar com eles a principio sem cargo na diretoria. Depois assumi um cargo administrativo, de auxiliar, e fiquei um bom tempo. Na diretoria depois, teve um período que a Wayta ficou como presidente, nos anos 90, eu participei como diretor cultural, porque na época embora eu trabalhasse no banco, sempre fui escritor. Hoje sou jornalista e escritor. Quando o Vergílio voltou eu continuei como diretor cultural e fiquei até inicio dos anos 2000. Me afastei uns quatro ou cinco anos e voltei em 2010 e fiquei até então. Participei da mudança em 2014, que pensávamos ser uma maravilha, mas é mais do mesmo. Nos anos 2000 entrei para o Conselho, fui convidado para a chapa do Conselho e continuei  até chegar a vice-presidente,  onde fiquei até ano passado.

O JORNAL – E as mudanças no clube?

Ortega – Eu era tesoureiro em 2014, com o Vergílio presidente. Fiquei quatro meses como tesoureiro quando deu um branco, então fiquei até arrumarem alguém. Concidentemente naquele período, em março creio eu, tínhamos que entregar o balanço do ano anterior na Federação para continuar participando do campeonato. Era obrigatório. É até hoje. Acontece que no último dia o balanço não estava pronto e eu cobrando o contador, o Vergílio. No dia anterior a entrega do balanço, o Vergílio me ligou a noite. “Ortega, você tem que vir assinar o balanço”, ai eu disse “peraí, estou em casa, a noite”. Ele disse que estava indo para São Paulo e disse para eu ir até a sede e eu fui. Conversando com ele falei “vou assinar algo sem saber o que é? Não fiz análise do balanço, não sei como tá”. E ele disse que estava tudo certo, que eu podia assinar e que se eu não assinasse ele não podia entregar. Eu assinei. Posteriormente peguei uma cópia do balanço e fiz uma análise, um estudo. Ao mesmo tempo, o José Eduardo tinha percebido algumas mutretas no balanço e eu fiquei com uma pulga atrás da orelha. Havia alguns lançamentos de empréstimo do Vergílio e da secretária dele, que na época ganhava R$ 2 mil  e tinha emprestado mais de um R$ 1 milhão para o Rio Preto, no ano anterior. Aquilo me assustou. Como ela pode emprestar tanto dinheiro se ela ganha R$ 2 mil, não tinha bens, tinha um carro mais velho e uma casa que era do marido. Ao mesmo tempo o José Eduardo tinha percebido isso, então ele levantou o problema em uma reunião do Conselho. Naquela época o Vergílio se afastou para concorrer como deputado e quem assumiu foi o vice, que é o Pedro Nimer e eu tentei falar com ele sobre o balanço. O José Eduardo reuniu um grupo de pessoas no escritório dele e levantou o assunto. Eu tinha dito que percebi, mas tinha assinado porque fui praticamente obrigado a assinar e depois que percebi a maracutaia. O José Eduardo disse o balanço era falso, não existia e iriam questionar isso. Então criou-se o Grupo dos 7. Eu fazia parte dele. Começamos a trabalhar no sentido de expulsar o Vergílio da presidência. Quando ele voltou do afastamento nós já tínhamos toda a ação. Reunimos o Conselho e conseguimos expulsar. Depois veio toda aquela situação dele esconder a chave da sede, ficou 15 dias sem ninguém poder entrar, sumiu com documentos, já que queríamos fazer uma verificação nos documentos, e nós tivemos que fazer a assembleia na praça. Foi assim que se criou esse grupo e para mim era a salvação do Rio Preto Esporte Clube. Eram pessoas do bem da cidade. O Itamar Malvezzi, que sempre respeitei e que me decepcionou  recentemente, o Oliva que é um homem integro,  Nelson Caires que tem uma integridade impar. O próprio José Eduardo que historicamente, até então, não tinha mostrado qualquer lado que eu pudesse reprová-lo, embora fosse deputado, politico, eu o respeitava. Mas eu pensava que essa era a salvação do Rio Preto e assim criamos o grupo e colocamos uma nova diretoria e chegou onde está hoje, o que estamos vendo.

O JORNAL – O que destaca como maiores conquistas dentro e fora de campo?

Ortega – Em 1987 ganhamos o Campeonato Regional Amador, com a base. Nesta época eu era diretor. Isso foi uma conquista já que o Rio Preto ganhou pouca coisa em termos de futebol. No dente de leite fomos vice-campeões da cidade, perdendo a final para o Palestra, que não tinha como concorrer com eles. Nós criamos recentemente uma estrutura de patrimônio no clube que você vê quatro prédios sendo construídos, ajudei a construir aquelas lojas na frente do estádio, de frente para a avenida Anísio Haddad. O estádio está bem bonito e bem estruturado, ajudei nessa parte. Fiz um trabalho de levantamento no estádio para poder fazer rotas de fuga que era exigido pela Polícia Militar, que se não existisse podia fechar o estádio. Fiquei quase cinco meses trabalhando nisso, fiz um levantamento, um trabalho com quase 200 páginas. Levantamento dos Bombeiros, da Polícia. Para ter uma ideia eu descobri que nosso estádio, até 2015, não tinha alvará de funcionamento. Não podia ter jogo. Eu consegui o alvará. Imagina a história do Rio Preto Esporte Clube, jogando bola em um estádio sem alvará. Tinha alvará de construção, mas não de funcionamento. Uma série de coisas que participei, ou na frente ou auxiliando e que engrandeceu muito o clube e também nessa mudança radical na administração e que eu particularmente imaginava que era para melhor e vimos que não foi bem assim – é mais do mesmo, se não for pior. Estão dilapidando o patrimônio como o Vergílio, em partes, dilapidou, ele perdeu o clube de campo, que nunca poderia ter acontecido. O clube de campo, que foi doado pelo Anísio Haddad, aquele terreno, que era muito grande, indo para a Vila Azul. Estava sendo feito um clube lá, mas perdemos na Justiça. Estava perdendo inclusive o terreno onde estava sendo construído o primeiro condomínio, os dois primeiros prédios que estão prontos. Conseguimos, na época da mudança, recuperar pelo menos oito, de quinze apartamentos que estavam no contrato, recuperamos em negociação e que coincidentemente o construtor sempre participou da diretoria e do conselho – o Sebastião Dias. Conseguimos a negociação, mas hoje não tem mais, já venderam, então para o clube não existe mais. Mas, enfim, foi uma luta que tivemos e que estava sendo perdido e nós conseguimos recuperar, mas que já desandou novamente.

O JORNAL – Os acessos e a expectativa do centenário?

Ortega – O problema maior, vou ser sincero, é o José Eduardo Rodrigues. Ele é centralizador. Tudo tem que girar em torno dele. Desde quando montamos o Grupo dos 7, e fizemos a mudança, ele passou a gerir o clube do jeito dele, apesar do presidente na época ser o Suélio. Antes do Suélio teve o Fábio, que ficou alguns meses para fazer nova eleição. Só que o Suélio não mandava, quem mandava era o José Eduardo, que não era nada, apenas era membro do Conselho e diretor jurídico. Mas como líder do Grupo dos 7 ele tomou conta, até conseguir ser presidente do clube. Ele fazia tudo.  O time que subiu em 2016, da A-3 para A-2 quem montou foi o Badan. O Junior Badan tinha conhecimento e facilidade para montar time, mas ele se afastou nos últimos dois anos. Esses anos, que tínhamos que fazer tudo para o time se dar bem, afinal é o centenário, vêm o vexame que foi a A-3 e quem montou foi ele. Dizia “vou montar do meu jeito, quero time barato”. Time barato? Em campeonato da A-3 não dá para ter time barato, “mas pagamos em dia. Muitos times por aí não pagam em dia e tem time caro, depois ficam devendo, mas tem time caro”. Trás bom técnico e o que trouxemos? Nada. Infelizmente o fato do José Eduardo ser centralizador fez com que quase caíssemos várias vezes. Caímos em 2017, e em 2018 foi um time fraco, também não classificamos por um ponto e 2019 foi o vexame no centenário – tudo para ser um ano de festa e está sendo um ano de desgraça para o Rio Preto Esporte Clube.

O JORNAL – E o que está achando da base e o fim do futebol feminino?

Ortega – A base está indo mais ou menos bem, mas é parceria. O José Eduardo não manda na base. O parceiro da base sabe tocar bem. O Sub-20 fez a melhor campanha do Rio Preto em Copa São Paulo. A base tá boa, mas a parceria é nova ainda, antes estávamos sem base. De 2012 para cá estava sem base e um time como Rio Preto não pode sobreviver sem base. É dela que vem o dinheiro, onde consegue sustentabilidade do clube, além do patrocínio. O futebol feminino foi uma pena. O José Eduardo tirar do Rio Preto. “A Dorotéia fez isso, fez aquilo”, mas quem toca futebol como a Dorotéia? Igual o Chicão Regueira? Do jeito errado deles, mas estão tocando muito bem, sempre tocaram, olha quanto tempo estão com futebol feminino – com Juventude, depois o América e o Rio Preto. São mais de 20 anos. Sempre foi muito bem, da maneira dela. O problema foi financeiro, já que o dinheiro da premiação que ela ganhou o José Eduardo queria trazer para o clube e ela queria distribuir entre ela e as jogadoras e isso criou um impasse. Por isso o José Eduardo resolveu, por conta dele, veja bem, não foi o Rio Preto Esporte Clube que expulsou o futebol feminino, foi o José Eduardo que expulsou, por atrito com a Dorotéia. Eu fiz questão de mandar um e-mail para a Dorotéia, quando ela saiu, parabenizando ela e me dizendo triste pela saída. Eu gostava e gosto muito do futebol feminino, sempre fiz questão de inclusive de, em reuniões do Conselho, colocar em ata o valor que tínhamos com o futebol feminino, que sempre deu glórias para o Rio Preto Esporte Clube, coisa que o dos homens não conseguiu. Pouquíssimas vezes, talvez em 2007, quando subiu para a A-1, mas logo caiu também. O feminino ganhou Estadual e Brasileiro e levou o nome do time de forma que o masculino nunca levou a nível de estado, o que dirá Brasil. Deveriam ter conversado.  Olha o que virou. Agora tem a Ponte Preta, tudo bem, não está tão bem como antes, perdeu muito financeiramente com a verba cortada da Prefeitura, mas conseguiria mais patrocínios se tivesse o nome do Rio Preto Esporte Clube. Mas, agora, dificilmente alguém vai dar patrocínio para uma Ponte Preta, de Campinas. Se já temos dificuldade de sobreviver na nossa cidade, imagina time de fora já que a cidade não apoia. Você vê jogos do Rio Preto com 200 pessoas em um estádio para 19 mil pessoas. Raramente vi três mil pessoas. Teve isso quando subiu. O estádio não lotou nem com o São Paulo jogando aqui. Sei por que estava lá e vi espaço vago. Lotou com o Palmeiras, mas não com o São Paulo. A cidade tem dificuldade, mas o futebol trazia uma imagem boa, uma imagem de alguém que cuidava de um futebol amador, que ainda é amador o futebol feminino. Alguém que se preocupava. Essa imagem é boa e poderia trazer, com o tempo, melhores patrocínios. Outra coisa negativa também. Perdemos alguns patrocínios grandes como a Poty e a Kodilar, por exemplo.

O JORNAL – Como foi sua saída do clube?

Ortega –  Em abril apresentei minha carta de renuncia do Conselho, sem saber que eu não pertencia mais ao Conselho. Não fui avisado que teve assembleia no dia 31 de dezembro de 2018, de forma totalmente equivocada ao estatuto. Eu sei disso, porque eu escrevi o estatuto, depois o Zé Eduardo alterou algumas coisas, mas quem elaborou tudo fui eu. Peguei vários estatutos para estudar e fazer o do Rio Preto, em 2015. Fiquei um bom tempo estudando esse material todo para fazer um estatuto razoavelmente bom. Minha estrutura não era a que está aí. Montei o estatuto com uma presidência, quatro vices e um conselho gestor. Esse conselho gestor teria oito pessoas, onde quatro seriam vices, o presidente e mais três eminencias. Esse conselho iria gerir o clube. Depois o Zé Eduardo mudou, colocou doze vices, não sei para que, foi para homenagear político, homenagear muita gente. Como teve essa assembleia, eu era vice-presidente do Conselho e não sabia da assembleia do dia 31, que, cá entre nós, não existiu, é falsa. Eu não sabia. Em abril pedi dispensa do Conselho sem saber que não fazia mais parte. Eu não era mais vice-presidente, meu nome estava na chapa, eu pedi a saída do Conselho, pedi a saída da vice-presidência da diretoria, era vice da diretoria, era vice cultural (um dos doze), e pedi a dispensa do Conselho fiscal. Protocolei três cartas na secretaria do clube, tenho as cópias protocoladas. Agora, quem gere o Rio Preto Esporte Clube é o Zé Eduardo e o Itamar, só os dois, junto com os filhos deles e os funcionários do Rio Preto, participando do Conselho. Então, eu estou fora. Tem um grupo que entrou na Justiça para tentar anular a assembleia, que foi feita em desacordo com o estatuto. Não podia ter acontecido no dia 31, tinha que ter acontecido no primeiro domingo de dezembro. Teria que ter sido comunicado 60 dias antes e não foi. Teria que ser publicado na imprensa 10 dias antes e não foi, foi publicado no dia 25. A assembleia tem que ter início às 9 horas e se encerrar às 17 horas, mas na ata consta abertura às 9h e encerramento ao meio dia. Foi montada uma chapa sem a anuência das pessoas que participavam da chapa, tem que existir anuência. Para eu participar da chapa tem que ter minha anuência, eu não vou colocar seu nome na chapa por colocar, tenho que perguntar se você quer. Ninguém sabia. Em função disso, como vi muita desonestidade e safadeza, muita coisa sendo feita as escondidas, desnecessariamente, já que na época o José Eduardo era presidente e tinha o conselho com ele, não precisava fazer aquilo, fizesse as claras, honestamente. Mas resolveu fazer às escuras, não sei por que.

Posso dizer que foram praticamente 32 anos dentro do clube, com algumas falhas no caminho, e me dediquei muito, com trabalho e financeiramente. Só posso dizer que estou triste, mas muito triste mesmo. Gosto muito do Rio Preto Esporte Clube, me apaixonei, foi o clube que em 1985 me cativou, quando cheguei. Eu estava vindo de Rio Claro e cheguei a treinar no Rio Claro, para ajudar. Então estou triste, só isso. Chateado. Espero que os grupos que lutam na justiça para resolver consigam sucesso. Que a justiça faça sua parte. Eu não estou junto, não estou na briga, para nenhum lado. Estou assistindo de fora. Enfim, espero que resolvendo toda essa situação eu possa voltar, eu voltaria com maior prazer, mas hoje me considero apenas torcedor. Sou sócio, tenho cadeira cativa, sou torcedor, então sou mais um na arquibancada. Só isso.

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