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Há 13 anos, o Rio Preto Esporte Clube conquistava um importante feito em sua história de mais de 100 anos: o acesso ao Paulistão de 2008. E para relembrar toda essa trajetória de sucesso, O JORNAL entrevistou quem participou diretamente daquela campanha vitoriosa, como membros da comissão técnica, jogadores, diretores, jornalistas e torcedores. Em 2007, o Rio Preto, com um time jovem, a maioria sendo formada na base do clube, ficou com o vice do Paulista A-2. O Jacaré ainda contou com o artilheiro do torneio, Anderson, que marcou 12 gols.

Um dos principais responsáveis pelo acesso, o empresário, Alescio Zaneratti, 56 anos, que hoje atua no mercado de meios de pagamentos (máquinas de cartão e outras soluções de pagamentos), falou com O JORNAL. Na época ele era diretor e investidor do clube, no profissional e nas categorias de base. Zaneratti contou sobre bastidores daquele ano, montagem de times, idas e vindas e afirmou que tudo começou bem antes, lá em 2005. Confira o bate papo:

O JORNAL – Como surgiu sua história com o Rio Preto Esporte Clube?
ALESCIO ZANERATTI – Surgiu de um convite do senhor Arino Rodrigues Alves, que presidia o Derac FC e onde o meu filho Alescio Neto, na época com 12 anos, jogava. Ele fez uma parceria com o Rio Preto EC para tocar as divisões de base e estava montando uma nova diretoria. O Rio Preto EC vinha de um momento muito difícil e estava montando esta nova diretoria no final de 2004. Fui convidado para participar de uma reunião e acabei fazendo parte da direção, ficando inicialmente com um cargo de diretor de marketing junto com o Hector, que a época era dono de uma empresa tradicional de confecção em Rio Preto e que tinha o pai (Promessinha) que não enxergava, apaixonado pelo Rio Preto.

O JORNAL – Conte um pouco sobre a montagem do time de 2007 e o início de tudo…
ZANERATTI – Tudo começou bem antes. Para o campeonato de 2005 o objetivo já era utilizar jogadores da base que vinham do Derac e que já estavam no Rio Preto. Também era objetivo ter o Ricardo Moraes como treinador, pois ele já trabalhava nas divisões de base do Derac. Mas, infelizmente, ele acabou não ficando como treinador. Foi auxiliar do Márcio Rossini. Depois de várias trocas de técnicos, entre eles, Serginho Índio que vinha da nossa base e o Vica, acabou caindo, com uma derrota de 5 a 0 para o Taquaritinga, nós quase caímos para a A-3. Mas o Botafogo de Ribeirão Preto havia escalado um jogador com documentação irregular e foi denunciado por um ex-supervisor do clube, que magoado com a demissão, denunciou o time. Ai acabou derrubando o clube de Ribeirão e salvando o Rio Preto Esporte Clube.

Grupo do acesso

Aquilo foi a gota d’água para ver que não era mais possível seguir daquela forma. Naquele momento eu já colocava dinheiro no Rio Preto Esporte Clube, sem nenhuma documentação e mais por ser um apaixonado que começou a acompanhar de perto e viajando junto com o time para os jogos profissionais, além de apoiar as categorias de base. No segundo semestre de 2005 viria a Copa Paulista de Futebol e o Rio Preto foi convidado para participar. Neste momento coloquei ao doutor Vergílio (Dalla Pria) que só seguiria se a política fosse de utilizar os jogadores da base, que estavam no Rio Preto, mas que não eram permitidos nem de correr em volta do campo. O Márcio Rossini não permitia.

O doutor Vergílio concordou com a condição, mas poderíamos trazer três jogadores, com salários de até R$ 800. Vieram: Mika, goleiro, Clênio, atacante e Rodrigo Alemão, zagueiro e por indicação do senhor Arino veio o Bira, volante, que estava parado e jogando amador. O Bira era oriundo do Derac, tendo passado pela categorias de base do Corinthians e base da seleção brasileira Sub-17. Juntamos com a garotada e acertamos com o Vilson Tadei de treinador. Na garotada quem se destacava era o meia Kim, que jogava muito, mas era instável. Fizemos uma boa primeira fase e para espanto de todos, classificamos para a segunda fase da Copa Paulista de 2005. Aquilo já era uma novidade. Mas neste momento o Vilson Tadei recebeu um convite do Barueri, que na época era rico demais e foi embora. Aí assume o Ricardo Moraes que vinha como auxiliar dele. Na segunda fase acabamos desclassificados pelo Nacional, da Capital, mas já tínhamos mais coragem para ousar para o Paulista da A-2 de 2006.

Neste momento começamos a nos preocupar com a Série A-2 de 2006 e já tínhamos o Ricardo Moraes de treinador e o Júlio Rodrigues de preparador físico. Precisávamos montar a equipe. Neste momento chega o Márcio Marcassa trazido pelo Tatui, que tinha sido jogador do senhor Arino. O Ricardo Moraes monta a equipe, o Cléber Arado vem jogar conosco e estava fazendo tratamento com o doutor Wilson, que nunca havia trabalhado com futebol. Por sugestão do Cléber Arado contratamos o doutor Wilson e depois chega o Wallace Stefanini (fisioterapeuta), que estava iniciando sua carreira. O Ricardo Moraes traz o Branquinho que jogava amador e a manchete do Diário da Região é: “Rio Preto Esporte Clube contrata jogador da várzea”. Tudo para nos ajudar, né. Mas vamos lá. seguimos. Ai o Márcio e o Tatuí começam a nos ajudar na melhoria do clube. Trazem a Nakal Uniformes e ficamos lindos de material de treino e de jogo. Ali já saiamos ganhando de 1 a zero.

O time encaixa e com muita dificuldade financeira, colocando dinheiro do meu bolso, conseguimos nos classificar em casa para a segunda fase do Paulista de 2006, em sétimo lugar. Aquilo era uma festa, começamos com o compromisso de não cair e classificamos em sétimo, em um campeonato de 20 equipes. Que trabalho maravilhoso. A equipe se destacava muito, tendo o Branquinho (eu bancava 1/4 do salário dele, o Bruno outro 1/4 e o Rio Preto 2/4, pois ele ganhava R$ 1.200,00, pois estava parando com as vendas e viria jogar profissional) o Leandro Love (o Ricardo trouxe do futebol de salão, junto com o Nino Zagueiro) todos eles ganhando salário mínimo (R$ 260). Eder Baiano e Jéfferson, além de vários outros jogadores, como o Rincón, volante.

Zaneratti, Jairinho e Luciano Dias, em foto realizada recentemente, em confraternização do grupo do acesso

Na segunda fase começamos mal. Em três jogos somente um ponto somado, mas a fase virou, fomos para Guaratinguetá (que tinha um investimento milionário) e ganhamos de 1 a zero, gol do Love. Voltamos numa quarta-feira à noite, em Rio Preto, contra o Barueri e ganhamos de virada por 3 a 1 e o Branquinho deitou. Mais um sonho, ir para Araras e jogar contra o União, sem nenhuma pretensão e uma vitória simples nos daria o acesso em 2006. Mas havia muito dinheiro oferecido pelo Barueri e o Guaratinguetá para o União São João e acredito que a adrenalina da quarta-feira tinha sido toda gasta. Apanhamos de 4 a zero e o sonhou ficou adiado. Mas já sabíamos o caminho.

Terminado o Paulista da A-2 de 2006, o Ricardo Moraes recebe um convite do Pão de Açúcar, que estava iniciando um trabalho na Série B do Paulista, mas que tinha uma estrutura monstruosa e muito dinheiro (depois virou o Aldax) e o Ricardo pede demissão e vai embora (acredito que ele se arrepende até hoje). Ficamos sem treinador e dando continuidade na cultura que havíamos implantado, fomos buscar o Luciano Dias, que estava no Esportivo, de Bento Gonçalves, Primeira Divisão do Gaúcho. Ele resolveu apostar em nosso projeto. Lembrando que o Luciano Dias havia sido treinador do juvenil do Rio Preto EC, trabalhado com Bady, Grampola, entre outros. O que ele ganhava no nosso Juvenil não pagava o condomínio do apartamento que ele morava em Rio Preto. Então, o Luciano já conhecia as nossas condições e assume a formação da equipe para a Copa Federação Paulista, no segundo semestre de 2006. O Branquinho que era destaque acaba sendo emprestado para a ULBRA, do RS, e vai embora, o Leandro Love, numa emboscada do Oscar Bernades, ex-zagueiro do São Paulo é levado para o Japão a revelia do Rio Preto (esta é uma outra história, pois movemos uma ação contra o Vissel Kobe e recebemos na Justiça do Trabalho, o que liquidou todas as dívidas pendentes do Rio Preto EC em 2007).

Zaneratti fotografado no estádio Anísio Haddad, quando era diretor e investidor da equipe

O Luciano trabalhou com o que tínhamos e montamos uma boa equipe para a Copa Federação, baseado em nossa garotada. Foi um belo laboratório para o A-2 de 2007. Chega a pré temporada para 2007 e estamos muito mais estruturados. Nesta altura, todos muito bem uniformizados, patrocínios e eu colocando dinheiro para fecharmos as contas. Nessa época a nossa folha total era de R$ 45 mil e eu colocava R$ 20 mil do bolso. Tudo com a promessa de na venda dos meninos ser ressarcido, junto com o Derac. Eu seguia na categoria de base também e colocando dinheiro para a manutenção. Moradia, viagens, alimentação, arbitragens, salários dos profissionais (treinadores, preparadores físicos, roupeiro) e gravava todos os jogos do Sub-15, Sub-17 e Sub-20, além do profissional com o X-Tudo (meu amigo querido Cris), eu mesmo editava e enviava para os empresários, entre eles, o Carlos Roberto, de Mirassol, que me ajudou muito e também ganhou muito dinheiro com os nossos meninos.

Pela experiência de classificação do ano anterior, a nossa meta era classificar de novo, mas desta vez entre os quatro primeiros e decidir a vaga, no último jogo, em casa. E assim foi feito. Começamos muito mal, tomando uma goleada no primeiro jogo para o Nacional, por 5 a 1. O atual presidente queria mandar o Luciano embora, naquele jogo, mas apesar de ser amiguinho do Dalla, ele não mandava nada no futebol e não demos nem bola para ele. Sabíamos o que estava sendo feito e assim seguimos até a classificação consistente para a segunda fase e nos classificamos em segundo lugar. Acredito que só atrás da Portuguesa, que disputava a A-2, mas era muito forte.

A segunda fase foi uma festa. Vencemos os três primeiros jogos e fizemos nove pontos de cara. Precisávamos de mais um somente e em Ribeirão Preto, mesmo com a derrota para o Botafogo, subimos e fizemos história. Depois veio o jogo do Mirassol, eles subiram também e fomos fazer a final com a Portuguesa e nos tornamos vice-campeão da serie A-2 de 2007, conquistando o direito de participar do Paulistão de 2008.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Bons tempos que não voltam mais… eu desde que tive meu direito a criticas ao time cerceado nunca mais pisei no Anisio Haddad… e só volto quando forem outros diretores.
    O Doutor Virgilio quando o time caiu para A3 me olhou no fundo dos olhos marejados atrás do Banco de Reservas ao final do Jogo contra o Velo Clube, e encarou todos os outros torcedores que ali o xingavam e pediu desculpas.. pedia a um por um.. isso é ter coragem e amor por um clube

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